A criança como animal irracional
Fui ao novo shopping, um shopping daqui de Ribeirão Preto, e conversei com uma senhora que estava com uma criança sendo levada por uma corda presa a uma mochila na fila de um banco, questionei por que a mãe simplesmente não segurava a menina pela mão ao invés de utilizar algo que mais parecia uma coleira. A mãe se justificou dizendo que o shopping estava muito cheio e que a filha ficava mais livre para andar sem se perder. “Acredito que, no fim, ela entendeu minha posição”.
Eu sempre digo que os pais precisam ficar alerta com o uso deste tipo de mochila, pois podem prejudicar bastante a educação das crianças. “Muitos adultos transferem para o acessório os limites que eles mesmos deveriam dar aos filhos. Desta forma, deixam de ensiná-los a lidar com situações de risco e a se comportarem em público”.
Nestes casos, o melhor mesmo é chamar a criança antes de sair e explicar que ela deve andar de mãos dadas com os pais, não pode correr, nem sair andando sozinha. “A conversa ainda é melhor caminho. Impor limites dá trabalho, mas às vezes os pais querem achar métodos indiretos de fazer isso, a lei do menor esforço, e o resultado é muito ruim”.
Assim como no caso daquela senhora, muitas vezes, o uso da mochila com guia é feita mais por conta do receio dos pais de perderem seus filhos em lugares com muita gente do que propriamente pelo mau comportamento deles. É o caso, por exemplo, de grandes parques temáticos, como o Hopi Hari, em São Paulo, os da Walt Disney World, em Orlando, onde é comum encontrar crianças utilizando a “coleirinha”.
Acredito que, existem situações extremas, como uma mãe sozinha com três filhos, nas quais o uso pode ser tolerado. No entanto, eu sempre digo que o melhor mesmo é ensinar as crianças a circular em público e explicar as consequências que a desobediência pode causar. “Se você usa a coleira e não orienta a criança, ela nunca vai aprender a entender os limites. Acho ruim quando este acessório substitui um treino educativo”, assim acredito.
Mas se mesmo com toda a orientação os pais ainda ficarem inseguros em levar os filhos a locais públicos, Eu aconselho fazer saidinhas experimentais, em lugares menos cheios ou em dias que o shopping estiver mais vazio, por exemplo. “Medo que aconteça alguma coisa ruim todo mundo tem, mas temos de tomar cuidado para não colocar os filhos em uma ‘bolha’”, e digo sempre: ao lado de uma criança sempre tem de estar um adulto.
Também aconselho: outra saída é procurar programas nos quais a criança possa ficar mais livre e solta, sem a necessidade de uma intervenção maior. Já se a intenção dos pais é fazer compras no shopping, pode ser que a melhor opção seja deixar a criança com alguém, assim os adultos ficam menos preocupados para resolverem suas pendências.
Em todo esse processo de colocar regras, a atitude firme dos pais é fundamental. No entanto, também oriento que o bom comportamento dos filhos deve ser elogiado sempre. Portanto, se eles agiram bem durante o passeio, diga o quanto aprovou a atitude e ficou contente. “A criança precisa de muito reconhecimento. Ela sente orgulho ao saber que fez algo certo e vai querer repetir a atitude depois. Isso vale mais que uma bronca é muito melhor a estabelecer os limites”, afirmo sempre que esse é o comportamento correto. E não sair por ai com uma criança presa em uma coleira como um animal irracional...