A TAPIOCA
Hoje à tarde, eu comi uma tapioca. Que coisa mais gostosa é o sabor e o som: ta pi o ca! O quê? Você não gosta? Chamem o capitão, atire esse homem ao mar! Joguem essa mulher que não gosta de tapioca aos tubarões e o menino que torce o nariz, o deixe sem brincar. Onde já se viu que desrespeito! Tapioca tem gosto de Brasil, cheiro de terra, quem nunca provou de uma tapioca, não sabe o que lhe espera.
Adoro parar nessas barraquinhas e observar, a farinha e água numa bacia se misturar, enquanto a frigideira pacientemente fica a esperar. Então a artesã da tapioca vai jogando a massa e moldando-a como se fosse uma panqueca. Tudo é muito rápido, massa vira tapioca, como se tivesse pressa, de receber o recheio de leite condensado, goiabada, doce de coco, chocolate, manteiga ou nata. Doce ou salgada, a tapioca chega à boca como se fosse um “beiju”. Que goma mais linda, que refeição dos deuses. Comer tapioca é tão mágico quanto um Déjà vu.
Sempre como tapioca como se fosse a minha ultima refeição. Como um detento a um passo da sua execução, saboreio a tapioca, pedaço por pedaço, com apreciação. Comer tapioca é pura meditação: tapioca dissolvendo na boca, consciência em expansão; eu sou cada pedaço, sou o próprio sabor, cada sensação eu caço, cada mordida, uma explosão, uma cor. Eu amo tapioca como quem ama o próprio amor.
Quando chego ao fim, surge o desafio: a tentação de pedir um pedaço a mais, mas resisto, calo a gula e vou me embora sempre querendo mais; e como Deus é tão bom, sei que sempre haverá essas barraquinhas de tapioca por onde eu for nesse Brasil do meu coração. Agora me diga a verdade: deu vontade de comer ou não?