UM recorte de uma madrugada qualquer no subúrbio carioca (em noites de verão quando falta luz, é matar ou morrer)

No fim do filme acabou a luz, ela ainda piscou me deu esperança, mas se foi. Permaneci deitado, quase imóvel absorvendo ao máximo do frescor que deixou o ar condicionado no quarto. Mas logo todo que era fraco e confortável, foi se tornando quente e abafado. Então pensei que era um bom momento para fumar um cigarro.

Abri a janela e o prédio quase todo estava empoleirado, cada qual em suas janelas. Alguns distraídos com seus celulares, ou de papo e tantos outros entediados. Mas todos Unidos pelo calor de janeiro.

Entre os tragos, a falta de luz e o calor me lembraram que foi em uma noite dessas em que comecei a ler Quase Memoria do Cony, livro esse que se perdeu em um desses meus fins de relacionamento. Me lembrei da época. Eu tinha toda uma rotina. Acordar, enrolar, almoçar trabalhar e voltar. Era tão confortável, não desejar nada muito além daquilo. O livro foi importante naquela época, hoje quase nada me diz. Lembrar dele só serviu pra me lembrar daqueles dias.

Hoje me sinto alheio a tudo aquilo, alimentando meus sonhos com tinta e vinho. A chance de "errar" nunca esteve tão próxima, vive me tirando uns finos, passa rente. Mas rápido eu desvio, desvio e sigo. Confesso que em muitos dias e em muitas outras noites é difícil... Por outro lado nunca me senti tão vivo.

Quando me dou conta só sobrou o filtro queimado do cigarro, ao fundo o burburinho dos vizinhos. Nem sinal de brisa nem da energia. É hora de deitar na cama quente e suar sozinho.

Max Olivete
Enviado por Max Olivete em 15/01/2014
Reeditado em 15/01/2014
Código do texto: T4649963
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