AMOR ÀS CLARAS
Entrar embaixo do chuveiro, cabeça molhada, pegar shampoo: não faz espuma – é creme.Tateando, pego outro tubo: creme. Por tentativas, enfim, a espuma: é shampoo.
Cabeça lavada, hora do creme, pego o tubo: é shampoo. Experimento outro tubo: é shampoo.
Outro tubo: enfim é o creme.
Há coisas que não dá para fazer no escuro. Outras, às vezes ...para treinar a visão às cegas, domar a confiança, vivenciar o tato e aguçar todos os sentidos.
Algumas atividades feitas no escuro são até prazerosas. No século passado provei isso. E põe século nisso.
Comentando o fato com uma amiga, uma vez, ela me disse: “Você é normal? Está se sentindo bem? Tem alguma doença?”
Noutro dia, conversando com um amigo, ele me disse: “Faço amor comigo mesmo” – e declinou há quanto tempo vem praticando.
Achei a expressão, além de inusitada, muito carinhosa, afetuosa, amorosa, demonstrando que de alguma forma existe “sentimento” nesse ato, ainda que solitário, declarado às claras, com sinceridade e uma criatividade à prova de qualquer escuridão.
Afinal para desarmar o outro é preciso armar-se primeiro.
Ou:
Afinal para amar o outro é preciso amar-se primeiro...
14/01/2014