Sentimentos naquilo que não se dá valor.

Havia um lenço, branco e novo, recheado de alegria porém com um destino escrito que, já sabia ele, seria triste mas muitas vezes recheado do prazer de trazer a calma a quem o usasse. Teve pouco tempo de vida.

Mas aprendeu muito e viveu, ouvindo cada palavra de dor que aqueles que o usava pronunciavam. Com seus próprios olhos de algodão, a dor contida em cada lágrima que recolhia era sentida, refletindo uma sensação de paz a quem o estava usando. Cada gota era uma manifestação de dor, um pouco da dor vazada de um grande pote que continha toda sua intensidade.

Sua vida terminaria quando o pote esvaziasse, fosse em minutos, fosse em horas, ele não poderia saber. Mas viveu, com seu pequeno coração de algodão fragmentado longe de ser aquele sorridente coração que não conhecia a dor nem a maldade.

O pesadelo maior era saber que, uma hora ou outra, perderia a companhia, a única companhia, com quem podia olhar e ouvir, por mais que jamais dissesse algo. O medo da solidão intensificou quando o pote esvaziou, e continuar vivo já não importava mais pois não teria mais utilidade.

Então, era uma vez um lenço, carregado de mágoa, que morreu não por deixar de ser útil, mas por não ter mais ninguém com quem pudesse demonstrar afeto. Estava sozinho no mundo. Seu coração despedaçado havia evaporado.

Sua essência, não passou de uma mera existência que deixara de fazer parte deste mundo.

L Andrade
Enviado por L Andrade em 14/01/2014
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