Crônica da Velhice

Certa vez um legendário guerreiro grego cuja glória entre os mortais lhe fora consagrada em épica batalha contra Tróia viu do alto de uma montanha nos Pirineus um mundo inteiro a ser desbravado. Ergueu sua cabeça majestosamente e direcionou-a ao horizonte. Esta contava com muitos cabelos brancos e havia em seu olhar impetuoso a convicção de qual rumo deveria seguir. Optou por desbravar as terras do oeste sem olhar para trás, indo ao encontro de seu incerto destino.

Em seus ombros, carregava o peso de uma calejada vida.

Lutava contra cada inimigo que aparecia diante de si valendo-se de todas as forças que a velhice não lhe levara. Sua mente insistentemente lhe sussurrava que a maior das derrotas de um ser humano é não ter a coragem de lutar pela busca de sua felicidade, ainda que tardiamente. Em sua jornada, em cada passo, mais aumentava sua apreensão. Da morte, não tinha medo.

- Que espera por mim adiante? Interrogou-se.

O caminho era longo demais e não sabia se um dia chegaria onde desejava, mas aprendeu que para tudo há um tempo, até para se imortalizar nas páginas da história. Mas o tempo é sorrateiro e enigmático.

Quando cruzou um bosque de árvores altas e folhas secas, de cores cinzentas e mórbidas, Mnemosine revelou-se:

- Quem há de ignorar a sabedoria que Chronos, senhor dos tempos, propicia? Que criatura é capaz de não reconhecer seu colossal poder?

E ele respondeu sem titubear:

-Eu!

Nada parecia fazer cansar a sua obstinação. Não sei se o mesmo chegou onde tanto desejava, mas o que importa é que ele tentou. E poucos teriam coragem de desafiar o deus do tempo.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 14/01/2014
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