Quando a tempestade passa.

Quando a tempestade passa o cheiro úmido do chão molhada dá a sensação de que as coisas vão enxugar-se num piscar de olhos. Os pássaros saem de seus abrigos e em voos ousados pousam no chão encharcado visando colher os bichinhos que ainda lutam com a lama. As pessoas começam a andar apressadas para ver se aproveitam o tempo gasto com a espera do aguaçal. O vento espalha as gotículas que insistem em apegar-se às folhas. O sol, tímido, começa a despontar no horizonte. As ruas molhadas vão dando lugar aos trilhos que vão se formando pelas rodas dos veículos. A vida recomeça. A normalidade reabre uma nova etapa no dia.

Creio que estou me sentindo exatamente assim após a tempestade. Tenho de correr contra o tempo para aproveitar o tempinho que tenho para resolver aquilo que não pude enquanto estava abrigado com medo da chuva. Mas ela passou e isso é o mais importante para mim nesse momento. É hora de ‘arregaçar as mangas’ para tentar consertar o telhado, porque o madeiral e as telhas estão meio cansados em face aos desgastes e às intempéries que lhe açoitaram se piedade.

Agora é hora dos consertos. Tenho de apreciar com cuidado o material de reposição para meu telhado. Não posso colocar coisas de terceira linha. Afinal, a tempestade demonstrou que por mais que a gente cuide e zele para que as coisas não se deteriorem elas, inevitavelmente, caso não aja uma manutenção sistemática irão se estragar pelas forças do tempo.

É preciso, também, olhar a matéria prima. Ver a origem das coisas e tentar agir com maior rigor na apreciação de sua durabilidade e de sua resistência às intempéries. Para isso é necessário ajuda de especialistas. Se for o caso até usar subterfúgios na metafísica. Há que se explorar os enigmas como forma de entender os desvios da boa qualidade. O lema é esse: Consertar, mas de uma forma em que o conserto possa resistir a outros baques da natureza.

Em todo caso, a tempestade deixou marcas. Se o fazendeiro não cuidar de sua propriedade, colocando curvas de níveis nos terrenos inclinados, as enxurradas irão formar erosões que protagonizam verdadeiras crateras que rompem a normalidade da planície. Todo o cuidado deve ser empregado nas coisas que tendem a desmoronar.

E os erros deixam cicatrizes que devem ser curadas e depois de completado a etapa conclusiva das células, talvez seja necessário até uma cirurgia reparatória para que as manchas sejam extirpadas de vez.

Nesse contexto tudo é válido como ação. O amor é que deve ser o carro chefe das ações. Quem tem amor não desiste. Quem ama de verdade indica o algoz que dá a chicotada. Aponta os caminhos onde há menos espinhos. Corrigi os erros de percurso. Dá sustentação material naquilo que for necessário.

Mesmo assim fica a dúvida. Será que a enxurrada e o ponto devastador das águas foram capazes de indicar que não se deve duvidar da fúria da tormenta? Entretanto, quem crê vê uma Luz no final do túnel. É só não atropelar os acontecimentos. Assumir o tormento. Não se lamentar, mas lutar pelo que tem de ser feito. Não pular etapas. Levar a sério os problemas. Para depois, guardar consigo a certeza de que tudo foi feito dentro do possível. O resto fica por conta do que Deus determinar.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 13/01/2014
Reeditado em 13/01/2014
Código do texto: T4648066
Classificação de conteúdo: seguro