Sábio Jangadeiro

Certa vez, ao caminhar pelas areias da praia em um entardecer qualquer dos tempos de outrora, deparei-me com uma enorme concha. A pus em meu ouvido direito acreditando inocentemente de que ouviria alguma mensagem do deus romano Netuno, que reinava nas profundezas do oceano segundo afirma a mitologia. Àquele momento o mar estava um tanto revolto e fora em vão a tentativa de me comunicar com ele, certamente não queria contato comigo, um pobre e errante mortal distante das glórias dos titãs, deuses e semideuses. Então guardei-a em minha pequena bolsa de palha e segui adiante. Olhei para trás e vi que as ondas do mar apagaram os meus rastros. Assemelhava-me a um homem sem origem. E também sem destino, mas sabia que deveria seguir em frente, pois lá encontraria a felicidade. Um turbilhão de pensamentos e emoções me dominava e eu não sabia como lidar com eles. Lancei olhares ao alto e vi pássaros coreografando a dança da liberdade em cada bater de asas. Planavam divinamente, nada parecia lhes oferecerem obstáculos. Sentei por um instante na areia e passei a contemplar a alegria com a qual dominavam os ares. Levantei-me e decidi seguir novamente. Um homem que retornara à terra firme em sua jangada perguntou:

- Boa tarde, quem és?

- Não sei! Exclamei.

- Se tu não te autoconheces, não saberás qual rumo deverás tomar - exclamou.

Diante de inesperada resposta, conclui que há sabedoria na simplicidade. Não deveria seguir em frente naquele momento sem saber o que deveria buscar adiante. Ele me convidara para dormir em sua humilde residência, porém decidi voltar para o meu lar. Despedi-me dele e iniciei o regresso à realidade que me esperava ao chegar em casa.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 12/01/2014
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