BANCO DO BRASIL, MESTRE RAIMUNDO, CINQUENTA ANOS DE HISTÓRIA EM SANTA MARIA DA VITÓRIA

Esse era o cenário de Santa Maria da Vitória de cinquenta anos atrás na chamada rua de cima. (Do riacho para a saída de Correntina era chamada rua de cima e para a saída de Santana, era chamada de rua de baixo, fato esse já explicado pelo poeta Novais Neto em uma das suas crônicas no livro, Meu Lugar É Aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória) Todas as ruas, ou quase todas as ruas eram totalmente de areias. Não havia calçamentos. As praças, da bandeira, Jardim Jacaré, a rua Ruy Barbosa, a rua Coronel Clemente e tantas outras. Na região das praças citadas, havia o Clube Social II de Julho onde funcionava o Cine Rex de seu Jessé; Havia um bar e sorveteria, a antiga sede da Prefeitura, a cadeia municipal, a biblioteca municipal, a Igreja da Matriz, o cine União, o bar e sorveteria Santa Clara, a Loja " A Vantajosa", a loja" Athayde", a Loja "Lisboa" e a loja" Agostinho"e a tradicional Loja Coelho.

Havia o Colégio Popular Oliveira Magalhães e o Ginásio Comercial que ficava de frente da Algodoeira. O Ginásio Comercial tinha mais ou menos de cinco a seis salas de aula, uma secretaria, uma biblioteca, sem muros, algumas cercas de arames arrodeadas de matos por todos os lados e mais adiante, alguns casebres onde morava um leproso e um senhor que pedia esmolas, uma serraria e as cercas da manga de Anacleto.

Na beira do Rio Corrente havia um tamarindeiro frondoso, alguns metros acima da beira do rio alguns pés de juazeiros formavam as tendas para os construtores de barcos e, adentrando a roça de Anacleto tinha um pequeno caminho que dava acesso às pedreiras e lá no alto da curva do rio, já nas pedreiras, havia uma casinha branca bem no topo posição privilegiada para espiar o curso do Corrente em direção da volta da pedra e do Morro Domingão.

O ano era 1964 e já estávamos entrando na famosa ditadura militar, e justamente no mês de julho desse ano, Santa Maria da Vitória viveu um dia histórico. Eu até me recordo daquela tarde e noite festivas, espiando à distância a festa de inauguração de um novo Banco. Era em uma casa de estilo colonial na beira do Rio Corrente no sentido rio acima, do lado do Jacaré e que tinha sido adaptada para uso comercial. .

Foi nesta casa que a recém- inaugurada agência do Banco Brasil em Santa Maria da Vitória funcionou pela primeira vez. Ao lado também funcionou o Banco do Fomento do Estado da Bahia, já inaugurado anos antes, não me lembro quando, onde durante alguns anos, funcionaram lado a lado. O Banco do Brasil em tarde e noite festiva chegava a Santa Maria da Vitória trazendo o início de um novo tempo para a cidade e no seu quadro de funcionários, chegava um jovem idealista para fazer a sua história dentro da história do banco na história da nossa cidade.

Estou falando do mestre Raimundo Alcântara que, ao beber os primeiros goles de água do Rio Corrente, acabou sendo enfeitiçado pela cidade e pela mais bela baliza do desfile de sete de setembro, umas das mais belas garotas dentre outras belas da família do maestro Antonio Soares, mais tarde se casando com ela e assinando de vez a sua naturalização na cidade.

Mestre Raimundo poderia levar uma vida de sombras e águas frescas, pela sua posição no Banco do Brasil, casado com uma bela jovem, bom salário, mas não. O espírito de somar à juventude da cidade, os seus conhecimentos, mas precisamente na educação, se não bastasse a estafa do dia a dia, se prontificou a dar um pouco de si e começou uma vida no magistério, revolucionando as matérias na área da química e física. Em uma época em que não se falava em laboratório, os alunos ficavam encantados em fazer experiências e eu observei muito da janela da minha casa, uma quantidade enorme de alunos carregando os experimentos e experiências para demonstrarem nas aulas do mestre Raimundo e receber as notas.

Todos os alunos faziam de tudo para tirarem boas notas com o mestre Raimundo. Ele deu aulas na escola de Dona Rosa, mas foi no Ginásio Comercial que ele deu a sua grande parcela de colaboração e junto com os padres italianos e os seus colegas docentes acabou transformando o pequeno Ginásio Comercial no atual Centro Educacional Santa – mariense, um centro educacional de referência na região.

Mestre Raimundo não era só um educador severo, competente e dedicado. Ele abraçou a nossa juventude com amor e carinho e dava os incentivos e toda a ajuda necessária para que todos prestassem concursos para ingresso no BB e vibrava como um calouro colegial, quando os nossos amigos e colegas eram aprovados no concurso. Uma prova clara de que ele poderia ser chamado de um paizão para muitos de nós. Não sei se alguns desses colegas têm gratidão pelo o que o mestre fez por eles.

Quando eu fui estudar no Centro Educacional Santa- mariense, fiquei deverasmente extasiado porque seria aluno do mestre e ao mesmo tempo temeroso pela sua fama de disciplinador, severo nas provas e nas notas, mas eu já conhecia o seu jeito carinhoso de tratar as pessoas. Quando eu fui pela primeira vez ao Banco do Brasil fazer um depósito, isso foi em 1972, entrei meio acanhado, deslocado, desapetrechado e ele, ao ver o meu jeito acabrunhado, passou me na frente de outros na fila e, pacientemente, preencheu o formulário, contou o dinheiro deu-me todas as dicas, lição essa que jamais esquecerei e jamais esqueci.

Quando o mestre mencionou no face o cinquentenário da agência do Banco do Brasil em Santa Maria da Vitória, pensei com os meus teclados do computador: Mas este é o tempo que o mestre Raimundo fez a sua história no Banco do Brasil e na nossa cidade. O Banco do Brasil trouxe o progresso para a nossa cidade. Havia um fato curioso que poderia até ser comparado com os dias de hoje. É normal as pessoas ostentarem os seus celulares dos mais diversos tipos. Naquela época as pessoas que abriam contas no Banco do Brasil faziam questão de ostentarem os talões de cheques nos bolsos como prova de status. Eu não via a hora de crescer e ter conta no Banco do Brasil para ostentar os talões de cheques. Não consegui porque quando virei cliente do BB, já estavam em cursos os cartões magnéticos.

Quando cheguei ao Centro Educacional Santa – mariense, o mestre estava incrementando o centro cívico, criou um coral colocando o Maestro Antonio Soares para sofrer, afinal de contas fazer, Novais, Jaiminho, Titinho, José Moura, Saulinho, Joãozinho de Dona Rosa e tantos outros cantarem, Jesus, não era tarefa fácil. Mas o coral saiu e depois acabou. Valeu a iniciativa.

Quando o Centro Educacional precisava de professores, lá estava o mestre convidando colegas do Banco para ajudarem no centro dando a sua contribuição.

Certa vez, resolvi aprontar na escola. Pensei que fosse aula da Maria do Carmo peguei a Bandeira Brasileira e coloquei sobre a mesa do professor. Para meu espanto, quem entra na sala? Mestre Raimundo. Gelei!!!! Ele estava adiantando a aula. Não deu tempo de consertar a peraltice e seja o que Deus quiser, pensei.

- Quem fez isso que se manifeste! Silêncio total. No meu olho naquele momento não passaria uma agulha. Nem saliva eu conseguia engolir. O mestre tirou a bandeira de cima da mesa, deu uma lição de moral que doeu fundo na alma. Jurei para mim que nunca mais faria aquilo. Isto foi na sexta feira. Não dormi direito e inda bem que não me entregaram. No dia seguinte, na feira de sábado, tomei coragem e pedi desculpas. Não faça mais isso Joãozinho, disse-me o mestre. Claro que eu não seria maluco de fazer de novo. Quem tem olho tem medo, né!!!

Voltando ao cinquentenário do Banco do Brasil, se fizerem comemoração e homenagens aos cinquentas anos do Banco do Brasil, acho muito merecido, afinal de contas, Santa Maria sem o BB nunca seria a mesma. Mas se não fizerem uma grande homenagem ao funcionário que fez parte da primeira equipe de funcionários e que se transformou em um marco na educação da nossa cidade, fazendo parcerias com pessoas de peso na educação, ficarei possesso e meterei o pau se isso não acontecer.

Mestre Raimundo só tem cinquenta anos de páginas escritas na história da nossa cidade. Talvez, se eu não tivesse sido aluno dele, seria um aluno frustrado. Mestre Raimundo seguramente ensinou, acho eu que mais ou menos a quatro gerações de alunos. E que fez discípulos extraordinários.

Paulo Freire disse. Ensinar não é transmitir conhecimento. É criar condições para que a aprendizagem aconteça. E o mestre Raimundo fazia isso com maestria. O jeito dele de ensinar, até eu conseguia aprender. Sempre fui ruim nas matérias das exatas, só pela hora da morte, conseguia tirar notas com o mestre. Baixas, mas sem ser vermelhas. Bom , depois vou pegar o meu histórico para verificar.

O mestre citou que no BB existiram bons e maus funcionários. Por ocasião de 1979, quando o mestre convidou-me para dar aulas de EMC e pediu-me para que eu inovasse, e através dessa inovação, conheci o Gerente Xavier, uma pessoa culta e educada, acompanhando alunos da sexta série em um trabalho que eu havia passado, dividindo equipes que deveriam entrevistar determinadas pessoas. A equipe escalada para entrevistar o Xavier pediu-me que a acompanhasse e, aqueles quinze minutos com a criançada, aprendi algo que só iria ver na faculdade, ou seja, aprendi mais que os alunos.

Havia também um subgerente de nome Gonçalo que era o terror dos bancários. Exigente ao extremo, linha dura, exigia que todos laborassem de camisa social mangas longas. Imagine com o calor da cidade!!

Finalizo este texto, exortando a cidade de Santa Maria da Vitória para fazer no dia 04/07/2014, ano do cinquentenário do banco do Brasil, uma homenagem ao mestre Raimundo Alcântara que dedicou quase cinquenta anos de serviços essenciais para a nossa Santa Maria da Vitória, cujas gerações que passaram pelo seu crivo educacional agradecem por tudo que ele fez. A História do mestre Raimundo está misturada com a história do Banco do Brasil na nossa cidade e na história da nossa cidade.

MESTRE RAIMUNDO, PARABÉNS POR SER PARTE INTEGRANTE DOS CINQUENTA ANOS DA AGÊNCIA DO BANCO DO BRASIL EM SANTA MARIA DA VITÓRIA, E PARABÉNS PELO O QUE VOCÊ REPRESENTA PARA A NOSSA CIDADE.....

Jota Kameral
Enviado por Jota Kameral em 12/01/2014
Reeditado em 07/06/2014
Código do texto: T4646062
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