Diário de Sonhos - #065: A Pirâmide de Vidro
Eu sonhei que estava numa típica avenida de bairro da periferia de São Paulo. Avenida com duas faixas, ninguém respeitando a sinalização, pessoas e animais andando fora da calçada, fios, postes, vendedores ambulantes, lixo e calor. Enfim, o respeitável caos organizado que só quem mora em periferia conhece. Era de tarde, fazia um calor de rachar. Eu estava na laje de algum bar ou restaurante, olhando para longe (visto que em periferia não tem muito prédio pra barrar a visão). Tudo o que eu via era um mar de casas, rebocos e telhados laranjas. Logo abaixo de mim, na rua, alguém começa uma discussão. Um homem discute com um ambulante de uma barraquinha de cigarros ou de álcool, não lembro. Acho que eu devo ser um policial, então pulo lá pra tentar apaziguar os ânimos. Não lembro exatamente o que aconteceu, mas o homem foi embora e eu fiquei conversando com o ambulante. Em certa altura ele me diz: "Ah, se você acha isso ruim, dá uma olhada ali". Olho para trás e vejo uma gigantesca onda engolindo a tudo e a todos. Ela avança violenta e impiedosamente, varrendo tudo em seu caminho. Não lembro ao certo como era essa onda, mas era alguma coisa de água marrom, sujeira e poeira. Não penso duas vezes e saio correndo. As pessoas correm, mas elas são lentas, ou então tropeçam, e aos poucos vão sendo sugadas. Mais à frente há uma espécie em forma de pirâmide com a estrutura feita de vidro com vigas de ferro. Subo até o topo, junto com alguns poucos sobreviventes. O mundo agora é um imenso oceano, e tudo o que resta é a imensa pirâmide de vidro. Do lado de dentro, há um enorme salão e uma mesa com muita comida. Estamos salvos. Podemos nos alimentar até a fúria do mar baixar. Mas lá fora algumas pessoas com roupas de mergulho planejam nos tirar da pirâmide e ficar com ela. Alerto os outros companheiros. Nos armamos. Os mergulhadores emergem, escalam a pirâmide aos gritos. Uma batalha de vida ou morte se inicia no topo da pirâmide.
Onze de janeiro de dois mil e quatorze.