Crônica da Infância

Ontem, lancei-me ao êxtase pueril de contemplar a imensidão do céu noturno. O brilho psicodélico de cada estrela a cintilar na abóbada celeste fazia-me lembrar de alguns e especiais momentos dos tempos de infância que se eternizaram em minhas recordações. Veio-me a saudade bater forte no peito de quando brincava com meus amigos sem me preocupar com as horas que se passavam. A felicidade estampada em nossos rostos parecia não ter fim e nosso mundo de criança era um carrossel animado, embalado por contos e encantos. Recordei que a brincadeira preferida de nossos passatempos era a de soltar pipas. Confeccionávamos elas com o esmero de Michelângelo, autor da brilhante escultura Davi. Soltávamos sempre uma hora antes do entardecer e rapidamente elas ganhavam os ares, pareciam destinadas a irem além do que nossas pueris consciências poderiam imaginar. Coloridas, representavam a alegria da vida na fase mais lúdica de nossas existências. Certa vez o vento soprou mais intensamente e levou a minha para bem alto. Tão alto que a linha se partiu. Não sei onde ela caiu e tampouco fui à sua procura, mas curiosamente, pouco tempo depois cada um dos meus amigos de infância tomaram rumos diferentes e nunca mais nos vimos pessoalmente. Soube que um é atualmente médico e outro, engenheiro. Dos outros, não obtive mais notícias. Mas assim é a vida: às vezes parecida com uma pipa!