Bronqueado com o futebol
Verdade que eu ando meio bronqueado com o futebol e cheguei até mesmo a ameaçar não acompanhar mais as partidas nem pela televisão. Bolas, havia razões para isso: os últimos campeonatos brasileiros foram fraquíssimos, a última edição terminou em pancadaria e ainda por cima teve time grande se salvando do rebaixamento no tapetão. Mas mesmo no auge da minha frustração com o esporte eu nunca botei em cheque os jogos da Copa do Mundo – esses eu quero acompanhar e estou até mesmo disposto a comprar o álbum de figurinhas. Assim, havia certa justificativa para que eu fosse visitar a exposição sobre as Copas do Mundo e a evolução do futebol. E se não houvesse eu reivindicaria o tédio de uma tarde de folga.
Encontrei lá um par de botinas que os jogadores usavam na Copa de 1930 para chutar um objeto esférico bastante parecido com uma bola. Fotografias contavam como o Brasil havia perdido a Copa de 1950 e ganhado outras cinco. E em meio a painéis e camisas antigas encontrei ao vivo o Clodoaldo, tricampeão em 1970, mas resisti à tentação de provar aos outros, através de uma fotografia, a minha superioridade ao vivenciar aquele momento. Em um computador formei a minha própria seleção e ainda vi algumas imagens sobre a relação entre futebol e paz mundial. Tudo muito bacana e organizadinho, mas não seria a mesma coisa se não houvesse as mesas de pebolim e, principalmente, as de futebol de botão.
Pelo menos pra mim, que joguei botão durante toda a infância e não resisti à tentação de jogar também ali, mesmo que sozinho. Até porque, logo descobri que quase ninguém sabe jogar. A geração que conhece todos os combos no videogame não sabe como segurar uma palheta de futebol de botão. Crianças e adultos paravam para me assistir e eu me senti como se estivesse fazendo embaixadinhas. Em campo jogavam Argentina e Alemanha. Joguei para os dois times e não consegui fazer gol nenhum. Mas não fez muita falta: ali eu comecei a me reconciliar com o futebol.