Sementes que não morrem...
 

          O famoso teólogo José Comblin, sepultado na Fundação Padre Ibiapina, em Arara, há anos, entrevistado pela Revista do Instituto Humanitas Unisinos, revelou que padres estrangeiros teriam sido enviados ao Brasil, na década de 50, para “salvar a América Latina do comunismo”. Diferente propósito do macarthismo; mesmo com semelhante ideologia, contudo, a preocupação do Vaticano seria “salvar do ateísmo”, ao pinçar, para fora do contexto, a expressão, tida como antirreligiosa: “a religião é o ópio do povo”. Essa crítica à prática alienante da religião já havia sido, antes de Karl Marx, pronunciada por Kant, Hegel, Herder, Feuerbach, Bauer, Hess e Heine; alguns desses, cristãos como Immanuel Kant.  

          Cansados de pouco fazer no velho Continente Europeu, esses padres se aventuraram nesse programa não com tal objetivo, mas para um novo trabalho missionário. Aqui chegando, convencidos pela nossa realidade social, reconheceram nos então “chamados de comunistas” o diagnóstico dos problemas sociais que afligiam nosso povo. Na dita entrevista, Comblin ironiza: “Quase todos que saíram de lá para lutar contra o comunismo viraram comunistas (risos). Porque, chegando aqui, logo se viu que quem tinha preocupação social era visto como comunista”. Assim, de forma generalizada e preconceituosa, também taxados de “comunistas ou subversivos”, sem insinuar algum demérito, eram os militantes de Ação Católica.

           Com certeza, também com esse intuito de combater “ideias ateístas”, criaram-se, depois de 1950, os movimentos “Mundo Melhor” e “Ação Católica”. Este último se estruturava com suas conhecidas siglas: JAC (Juventude Agrária Católica); JEC (Juventude Estudantil Católica); JIC (Juventude Independente Católica); JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). Assim dividida, a Ação Católica, orientada por padres intelectuais e sempre com uma visão crítica sobre o “status quo”, formava jovens conscientes e também posicionados em relação à política nacional e internacional; rapazes e moças que liam filosofias ou literatura cristã com ideias progressistas das encíclicas papais e outros textos sobre questões sociais, analisando cruciais problemas sociopolíticos pela metodologia do “Ver, Julgar e Agir”. Seria a “Teologia da Libertação” ?  Falavam linguagem distinta, no seu meio, e, de repente, tornavam-se líderes, para, depois, na cidadania, devirem pessoas éticas, idealistas e de projeção no cenário profissional ou político. A Ação Católica formou boas novas lideranças, que foram afugentadas, como também o seminário dessas sementes, desfeito. Enfim, conclui-se que frutos nascem em várias estações ou até fora de época, mesmo quando se decepam frutuosas árvores...