O boi que era e o boi que não era
Galera dessa Faces & Bocas, a neura das grandes cidades é algo que está cada vez mais presente em nosso comportamento. Imagina você que outro dia mesmo eu sinalizava para uma vaga dentro de um shopping, quando um carro em velocidade acima do normal para esse tipo de lugar passou bem rente ao meu lado, fazendo em seguida uma perfeita conversão à direita, abortando de uma só vez a minha chance de estacionar.
Perplexo diante do ocorrido e sem enxergar quem estava ao volante, por conta dos vidros escuros, dei uma leve buzinada para demonstrar a minha indignação. Já ia partindo para outra, quando, surpreendentemente, salta-me uma senhora de uns setenta anos, desse tamanhinho, que, na lata, me diz: “Se não gostou, me pegue!”
É evidente que não peguei aquela senhora, mesmo porque ela parecia estar muito apressada indo em direção às compras.
Isso me fez lembrar a história de um sujeito que, morando em uma grande cidade, vivia bastante estressado. Não suportava mais ouvir sequer a voz da mulher, dos filhos, dos amigos, de ninguém; andava sempre com os nervos à flor da pele. Isso evoluiu, chegando ao ponto de, no trabalho, o nosso personagem passar a ver tudo em duplicidade. Viu ali, ao mesmo tempo, coisas que eram e coisas que não eram. Decidido, pensou enquanto ia para casa: amanhã mesmo eu procuro um especialista.
Chegando a sua casa, vieram abrir a porta a sogra que era e a sogra que não era – o homem teve um faniquito. Mandaram chamar uma ambulância, e ele teve de ser hospitalizado às pressas naquela mesma noite.
No outro dia, o diagnóstico: “Mal das grandes cidades” – o médico, imediatamente, recomendou-lhe um longo retiro em algum sítio ou fazenda, de preferência o mais longe possível dos seres humanos.
Compraram-lhe uma passagem de ônibus sem volta lá pras bandas do interior de Goiás, onde existia uma pequena fazenda de um amigo da família; nela morava apenas o caseiro, que foi avisado para apenas receber aquele hóspede, indicar-lhe as serventias da casa e depois desaparecer. Assim foi feito.
Após a sua primeira noite naquele lugar, o nosso amigo percebeu que o seu estado de saúde poderia melhorar rapidamente, pois amanhecera vendo algumas coisas duplicadas, outras, não. Logo que tomou o café da manhã, decidiu ir direto para o campo, respirar o ar puro da natureza.
Assim que começou a sua caminhada, reparou que, apesar de pequena, aquela propriedade tinha bastantes árvores frutíferas e gado de raça, além de um enorme roseiral que beirava a cerca do pasto. Como ele estava ali para ficar em sintonia com a natureza, colheu algumas rosas.
Já ia em direção ao pomar, quando percebeu, vindo em sua direção, dois touros: um que era e outro que não era. Desesperado, olhou em volta e enxergou duas árvores: uma que era e outra que não era; infelizmente, o nosso amigo subiu na árvore que não era e o touro que era pegou ele.