Meu Zen meu bem
Rosa Pena
Tomou um porre no dia do casório. Jurou que vai tomar o último no dia do seu próprio velório.
Seu guru? Pluft, o fantasminha. Segue seus ensinamentos à risca. Some e aparece nas horas que lhe apetece.
Não o corpo, mas a mente. Entra em alfa quando a babaquice delta. Quem não gama?
Vascaíno sonhador, só faz um pedido a Iemanjá na virada do ano. A morte do Eurico Miranda. Pecado compartilhado por sua cara-metade.
Diz que tem mais alguns desafetos além do Mirandão. O HDL e o LDL, filhos malvados do colesterol! No mais, não tem ódios, mas antipatias que para não se estressar evita ao máximo. NET, novela, celular, cd pirata, brigas, seguranças, agasalhos e chefes autoritários fazem parte da lista, mas despista.
Se um machão pergunta:
—Vai encarar?
— Jamais, sou gay assumido!
Cede a grama toda pro fodão fazer a refeição.
Enfartou, sarou e se refez menino aos sessenta. Vai garoto, arrebenta!
A Honda 1980, aposentada na garagem, jamais foi posta à venda. Lembrança viva dos tempos da falsa malandragem. Já deu muito cavalo de pau, a sorte é que lhe sorriu e de repente ele descobriu que ela podia ter feito cara feia. Virou pecúlio, pois não existe dinheiro que substitua uma paixão.
Adora percussão. Tocar é sua terceira paixão. Queria ser o Dom Um Romão, mas se contentou em só ser o dom dois. Batuca na caixa de fósforos, na mesa, na cama, na dama. UI!
Perna de mulher é a segunda da lista. Perde o olhar num par, exalta quem inventou a minissaia, fica delirando diante delas. In natura.
Meia-calça chama de empata love.
Um tremendo paizão, quase encaretou depois que a filhota nasceu.
— É lindaaaaaaaaaa, perfeitaaaaaaaaa, inteligenteeeeeeeeeeeee, intocável!!!!!!!!!
Comprou até um celular só para ouvir o seu olá! Está na cara quem encabeça o rol ou precisa de mais alguma pista?
Jurou que odiava poesia fabricada no dia-a-dia, até que ouviu de uma certa poetisa:
—Você se odeia?
Sacou finalmente que ele era o poema vivo dela. Escrito, dito ou só muito bem olhado. Óbvio que não era um soneto perfeito. Versos livres, versos loucos, sem rimas, sem métrica. Versos desconexos, por vezes totalmente complexos, mas sempre líricos como eles.
—A lua não é um lindo lençol? Seus cabelos a fronha.
Casam-se de novo, de novo e de novo... Um ritual que se repete no carnaval ao som dos Beatles, Chico, Thelonious Monk...
Será para sempre?
Louco é quem espera o eterno. É chama que se acende a cada ano.