Barbearia: banalidade de gênero
Dirigia-me para lá...
...e no caminho ia aquela mulher vestida de branco – seu vestido era de uma malha que rebolava ao ritmo de seus requebros.
Banalidades de gêneros.
Como ia a minha frente chegou primeiro na barbearia. Chegou e passou de liso com seu rebolar. Suficiente para fazer todos senhores – anciões - chegarem à porta – naquele horário de sábado só maduros frequentam estes lugares. Nem tanto. Lá entrara eu – nem tão idoso quanto – e outro – nem tão maduro como eu.
Gênero de banalidades!
Entrei no estabelecimento. Os comentários sobre a dona do andar cadenciado foi esmorecendo como aqueles senhores esmoreciam em suas senilidades com rompantes de juventude – saudades.
-Como será o corte? O de sempre?
Perguntou-me aquele senhor, barbeiro desde quando eu era criança.
-Príncipe Danilo! Respondi eu sem nem saber quem foi este Danilo – o corte era moda na década de 60.
Ele pôs-se a cortar o meu cabelo.
Chegou o outro – aquele mais novo que eu. Não vinha só: estava com uma criança. Pela cabeleira parecia menina, pelo rosto, menino.
O pai se acomodou na cadeira do profissional ao lado – também senhor de suas sete décadas.
O que arranjava os moldes estilo príncipe em minha cabeça interrompeu o seu trabalho e arriscou:
-Vou buscar balas para lhe dar, menininha quietinha.
O pai ao lado se remexeu incomodado e eu pensei: será? Foi quando à porta da barbearia chegou outro senil e parecia estar ébrio – de idade? – e disse:
-Que menino cabeludo!
Aquele que já vinha com as guloseimas se assustou:
-É menino? Não é menina?
O pai interveio:
-O cabelo dele está grande... É porque está na moda e a mãe gosta que fique assim!
...e lá era só a barbearia onde eu pretendia cortar o cabelo.
Banalidades de gênero!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 10/01/2014.