Zé Bandinha, um amigo do peito
Carlos Ebert de Souza Lanhas é, e não era, o nome deste grande amigo que se foi há alguns poucos anos, ainda no auge de sua existência, deixando um halo luminoso em tudo que tocou, um rastro de amizade, de companheirismo, solidariedade, de lealdade e, principalmente, muita saudade em todos que o conheceram e com ele conviveram.
Eu tive o prazer de conhecê-lo logo em seus primeiros dias quando passou a viver em Mimoso, trazido por seu pai, seu Ebert, gerente do Banco do Brasil, de quem Carlinhos herdou toda a camaradagem, a expansividade, a alegria de viver que conseguia transmitir a todos, naturalmente. E, como bem seu típico, a irreverência e até mesmo simplório em seus posicionamentos.
Era o primeiro dia de aulas no ginásio onde estudávamos e eu, como sempre, chegando tarde para o início das aulas e Carlinhos, já retornando do colégio, de onde fora suspenso por seu Clóvis, nos primeiros minutos do dia, por algo que ele aprontara, realmente não recordo o que. Encontramo-nos defronte ao campo do Ypiranga, e perguntei-lhe o porquê dele estar voltando tão cedo, se os portões já estavam fechados e ele contou-me o motivo de sua suspensão. E, por pura solidariedade, ali ficamos a bater papo e eu acabei também perdendo a hora de entrada. E estabelecemos uma amizade que se perpetuou por toda sua meteórica existência, principalmente após começar a namorar com minha grande amiga-irmã, Aurora, seu grande amor.
Tornamo-nos inseparáveis, eu, Carlinhos e Juracy, o Nem, principalmente estes dois últimos, pois logo depois parti para outras cidades distantes, com uma amizade consolidada nos anos de convívio amigo, participando juntos de todas as atividades que a irresponsabilidade da juventude nos permitia, nas excursões aos quintais alheios para roubar frutas ou ao alto do Belo Monte, nas tardes de banhos na pedrinha ou em excursões ao Pocitos, em todas as tardes jogando vôlei e futebol de salão na quadra atrás do banco ou no campeonato em que nos sagramos campeões, jogando pelo Municipal Lítero Clube, nos saudosos bailes mensais a que íamos, nas “soirées” aos domingos, após o cinema.
Juntos, fomos levados para Vitória para servirmos ao exército, o que representou uma queda significativa, qualitativa e quantitativamente na população masculina da cidade, acostumada a manter seus filhos aqui mesmo, exercendo o período no Tiro de Guerra e que fora fechado naquele ano de 1964, retirando toda uma geração de jovens, embarcada em vagões de madeira caquéticos da Leopoldina, criando verdadeira comoção na cidade ao nos ver partir, partilhando entre nós as porções de pastéis, quibes e frangos que nossas mães prepararam para nossa viagem, como se estivéssemos indo para a guerra, porém interessados no grande pacote que Hassem El Baruki levava e que julgávamos ser de deliciosos quibes árabes e que, quando aberto, descobrimos que eram enormes pepinos que ele devorou sozinho, com sal, deixando-nos frustrados.
Juntos, estudamos para os concursos do Banco do Brasil, de onde extraí a historieta que passo a contar, a qual comprova as adjetivações que lhe atribuí no início desta:
À época, éramos considerados verdadeiros moleques, na mais perfeita acepção da palavra e os pais de Aurora não permitiam seu namoro com Carlinhos, principalmente pelo posicionamento de Norberto, seu irmão que, a nossa frente se apresentava como amigo, mas que, por pura “pinimba” com Aurora, por trás o detratava. O simples fato de ter ido à Bahia para prestar concurso, contudo, modificava todo seu conceito, mesmo sem saber se fora aprovado ou não. Enfim, ele se tornara um homem responsável e já poderiam doravante namorar.
Ao regressar de Vitória da Conquista, já considerado como um “homem respeitável”, foi permitido oficialmente que Carlinhos e Aurora namorassem, o que foi celebrado com um almoço na casa de Seu Aristides, em que ele era o principal convidado. Todos sentados à mesa, perguntaram-lhe o que tinha achado das cidades da Bahia, ao que ele respondeu que tinha gostado, apesar de serem cidades ainda pequenas e com um problema muito sério na água, obrigando-os a só tomarem água mineral, durante todo o tempo.
- Mas que problema é esse, Carlinhos? – perguntou sério e interessado seu Aristides.
- É que a água lá tem muito espermatozoide – respondeu Carlinhos candidamente, querendo dizer esquistossomose, referindo-se ao caramujo causador de “barriga d´água”.
Mal estar geral, mas que não impediu que continuassem Carlinhos e Aurora namorando e se casando afinal, gerando uma descendência de filhos e filhas, tão queridos como seus pais o foram e são.
Este inesquecível amigo era conhecido, principalmente por seus tantos amigos que assim se permitiam chamá-lo, como Zé Bundinha, talvez por seus glúteos muito bem proporcionados em seu porte alto e atlético, mas que, por puro respeito e carinho, nós o chamávamos de Zé Bandinha, principalmente depois que, junto com Nem, integraram a banda do ginásio, tocando bumbos, os mais importantes instrumentos da banda.
E hoje, quando chega o mês de julho e com ele, no segundo domingo, se comemora a festa de nossa cidade, a nostalgia desce sobre mim, mesmo com a possibilidade de rever alguns outros amigos. É que sei que, à noite, não mais o encontrarei na barraca do Lauri, tomando cerveja e comendo churrasquinhos como sempre fizemos e que, principalmente, não mais passará a banda do ginásio, com Maneca ao tarol e nem mesmo Nem e Zé Bandinha, garbosos à frente com suas calças brancas e casacos vermelhos abrindo alas, fazendo acrobacias com as baquetas, tocando imponentes seus bumbos.
Eu tive o prazer de conhecê-lo logo em seus primeiros dias quando passou a viver em Mimoso, trazido por seu pai, seu Ebert, gerente do Banco do Brasil, de quem Carlinhos herdou toda a camaradagem, a expansividade, a alegria de viver que conseguia transmitir a todos, naturalmente. E, como bem seu típico, a irreverência e até mesmo simplório em seus posicionamentos.
Era o primeiro dia de aulas no ginásio onde estudávamos e eu, como sempre, chegando tarde para o início das aulas e Carlinhos, já retornando do colégio, de onde fora suspenso por seu Clóvis, nos primeiros minutos do dia, por algo que ele aprontara, realmente não recordo o que. Encontramo-nos defronte ao campo do Ypiranga, e perguntei-lhe o porquê dele estar voltando tão cedo, se os portões já estavam fechados e ele contou-me o motivo de sua suspensão. E, por pura solidariedade, ali ficamos a bater papo e eu acabei também perdendo a hora de entrada. E estabelecemos uma amizade que se perpetuou por toda sua meteórica existência, principalmente após começar a namorar com minha grande amiga-irmã, Aurora, seu grande amor.
Tornamo-nos inseparáveis, eu, Carlinhos e Juracy, o Nem, principalmente estes dois últimos, pois logo depois parti para outras cidades distantes, com uma amizade consolidada nos anos de convívio amigo, participando juntos de todas as atividades que a irresponsabilidade da juventude nos permitia, nas excursões aos quintais alheios para roubar frutas ou ao alto do Belo Monte, nas tardes de banhos na pedrinha ou em excursões ao Pocitos, em todas as tardes jogando vôlei e futebol de salão na quadra atrás do banco ou no campeonato em que nos sagramos campeões, jogando pelo Municipal Lítero Clube, nos saudosos bailes mensais a que íamos, nas “soirées” aos domingos, após o cinema.
Juntos, fomos levados para Vitória para servirmos ao exército, o que representou uma queda significativa, qualitativa e quantitativamente na população masculina da cidade, acostumada a manter seus filhos aqui mesmo, exercendo o período no Tiro de Guerra e que fora fechado naquele ano de 1964, retirando toda uma geração de jovens, embarcada em vagões de madeira caquéticos da Leopoldina, criando verdadeira comoção na cidade ao nos ver partir, partilhando entre nós as porções de pastéis, quibes e frangos que nossas mães prepararam para nossa viagem, como se estivéssemos indo para a guerra, porém interessados no grande pacote que Hassem El Baruki levava e que julgávamos ser de deliciosos quibes árabes e que, quando aberto, descobrimos que eram enormes pepinos que ele devorou sozinho, com sal, deixando-nos frustrados.
Juntos, estudamos para os concursos do Banco do Brasil, de onde extraí a historieta que passo a contar, a qual comprova as adjetivações que lhe atribuí no início desta:
À época, éramos considerados verdadeiros moleques, na mais perfeita acepção da palavra e os pais de Aurora não permitiam seu namoro com Carlinhos, principalmente pelo posicionamento de Norberto, seu irmão que, a nossa frente se apresentava como amigo, mas que, por pura “pinimba” com Aurora, por trás o detratava. O simples fato de ter ido à Bahia para prestar concurso, contudo, modificava todo seu conceito, mesmo sem saber se fora aprovado ou não. Enfim, ele se tornara um homem responsável e já poderiam doravante namorar.
Ao regressar de Vitória da Conquista, já considerado como um “homem respeitável”, foi permitido oficialmente que Carlinhos e Aurora namorassem, o que foi celebrado com um almoço na casa de Seu Aristides, em que ele era o principal convidado. Todos sentados à mesa, perguntaram-lhe o que tinha achado das cidades da Bahia, ao que ele respondeu que tinha gostado, apesar de serem cidades ainda pequenas e com um problema muito sério na água, obrigando-os a só tomarem água mineral, durante todo o tempo.
- Mas que problema é esse, Carlinhos? – perguntou sério e interessado seu Aristides.
- É que a água lá tem muito espermatozoide – respondeu Carlinhos candidamente, querendo dizer esquistossomose, referindo-se ao caramujo causador de “barriga d´água”.
Mal estar geral, mas que não impediu que continuassem Carlinhos e Aurora namorando e se casando afinal, gerando uma descendência de filhos e filhas, tão queridos como seus pais o foram e são.
Este inesquecível amigo era conhecido, principalmente por seus tantos amigos que assim se permitiam chamá-lo, como Zé Bundinha, talvez por seus glúteos muito bem proporcionados em seu porte alto e atlético, mas que, por puro respeito e carinho, nós o chamávamos de Zé Bandinha, principalmente depois que, junto com Nem, integraram a banda do ginásio, tocando bumbos, os mais importantes instrumentos da banda.
E hoje, quando chega o mês de julho e com ele, no segundo domingo, se comemora a festa de nossa cidade, a nostalgia desce sobre mim, mesmo com a possibilidade de rever alguns outros amigos. É que sei que, à noite, não mais o encontrarei na barraca do Lauri, tomando cerveja e comendo churrasquinhos como sempre fizemos e que, principalmente, não mais passará a banda do ginásio, com Maneca ao tarol e nem mesmo Nem e Zé Bandinha, garbosos à frente com suas calças brancas e casacos vermelhos abrindo alas, fazendo acrobacias com as baquetas, tocando imponentes seus bumbos.