Síndrome de irmão mais velho.
Sentei, e em meio aquele falatório podia ouvir as batidas do meu coração. Aliás parecia que meu corpo inteiro palpitava, as pernas, os braços, os dedos, os olhos... Percebi que havia perdido pleno controle do meu corpo.
Ainda assim, escutava às ameaças disfarçadas olhando para um ponto fixo, sem esboçar reação, pensava apenas na solução para o problema. De repente notei que as palpitações me convulsionavam, estava tremendo diante daquela terrível cena: vários homens impiedosos e um corpo ensanguentado no meio, jogado quase sem vida, e por motivo fútil. Não pude deixar de pensar o pior, também não pude evitar de me sentir responsável. Afinal um irmão mais velho nasce com responsabilidade de zelar pelo bem do(s) irmão(s) mais novo(s).
Nunca me senti tão impotente e ao mesmo tempo decisiva, em toda a vida. Vi-me tomada pelo medo, medo contra o qual não lutei, assumi e cujo alvo não era eu, tive medo pelas vidas de que me sinto responsável. Agora me pergunto se o que tive foi realmente medo, se não um imensurável sentimento de culpa, sobrecarga emocionar e por fim, tristeza.
Não perdi tempo, nem medi esforços. Me senti só, mas não me sentia capacitada pra suportar tamanho fardo sozinha, então pedi forças para continuar, orações que somadas as minhas me manteriam na luta. E entreguei minha vida e meu fardo nas mãos do único capaz de qualquer coisa, meu Pai, meu Deus. Segui, caminhando em dor, mas com os olhos voltados para o alto, e depois de todos os esforços espirituais concluídos, clamava sem conseguir parar e as lágrimas vieram ao solo. Chorei e pedi perdão por todas as coisas que eu podia ter evitado, que fiz mas, não queria foi como remir meus pecados, o que estava vazio em mim, se preencheu.
Mas eu ainda estava preocupada demais, os olhos não fechavam. As engrenagens na minha cabeça faziam barulho demais, estavam maquinando numa velocidade muito alta. Eu pensava em como o “mal” é ardiloso, arquiteta delicadamente sua destruição, e que eu não ia desistir (essas são coisas que ninguém sabe), mas tive várias “visões” de um deserto, ainda não sei o que significa. E toda vez que o via, falava que não me renderia, apesar de falar no singular, sentia no plural, como se eu tivesse mais alguém, sei lá.
Em algum momento uma doce brisa baixou minhas pálpebras, e pude dormir um pouco, o suficiente para manter-me em pé. Olhos vermelhos, cabeça latejando... Assim voltei para casa, tentando manter-me forte, aparentando uma tranquilidade e segurança que eu não tinha, ao menos não em mim.
Síndrome do pânico, tenho alguns sintomas. Espero que a cena de ontem não se repita, as horas me torturam, o prazo termina e mesmo com o acordo cumprido, não confio nas palavras de homens sem Deus.
Depois da ira, fiquei muito decepcionada com aquele monstro, e hoje sei que mesmo sabendo que ele não faria o mesmo por mim, eu faria de tudo para protegê-lo. E me liberto de tudo, pois confio naquele que segura minha vida em suas mãos.