ARMADILHA PÚBLICA

Ligeiramente, removeu uma misera fatia de pão de uma cruel armadilha e correu desesperadamente para um local seguro. Parou por alguns instantes atrás de uma parede descascada de tinta amarela. O pão preso entre os dentes. A respiração ofegante. O coração acelerado. O desespero estampado em seu olhar.

Atrás dele uma multidão agressiva com vassouras à mão, gritava agitadamente:

- Peguem o verme. Queremos vê-lo morto!

Ele, desesperadamente, voltou a correr. Hesitou olhar para trás, mas percebia o alvoroço e o vento das vassouras ao tentar atingi-lo. A sua frente, obstáculos o impediam de realizar uma fuga de sucesso. Desviava de um, esbarrava em outro, desviava novamente, até…

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A fúria ganhou proporções grandiosas, as vassouras foram tão agressivas que se quebraram. As pessoas que assistiram ao tumulto deram o pobre coitado como morto:

- Esse daí já era!

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Chegou são, salvo e assustado. Soltou o pão. Suspirou, aliviado. A ninhada era grande, mas a pequena fatia de pão foi suficiente para sustentar todos os ratinhos. Ele, orgulhoso de ver toda sua cria comendo, deitou-se para descansar de mais um dia.

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O ratinho nunca mais apareceu naquela casa. A família, que quase o crucificou, mantinha-se inerte em frente à televisão assistindo ao jogo da seleção e esperando com o título de eleitor à mão para votar em candidatos que provavelmente roerão os cofres públicos.

Thiago Pichinin
Enviado por Thiago Pichinin em 08/01/2014
Código do texto: T4641926
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