AO VENCEDOR, AS BATATAS
Quando lemos os números das Olimpíadas de Londres, eles deslumbram. Foram 34 modalidades, bilhões de telespectadores assistiram às competições, 4.700 medalhas brilharam no peito dos competidores, a delegação brasileira contou com 259 atletas e eram 10,5 mil atletas de 191 países. E mesmo ainda faltando alguns anos, os números das Olimpíadas e da Copa no Brasil já atingem os milhões de reais nas verbas destinadas aos estádios e ao parque olímpico. Infelizmente, a recente história indica que muitos desses milhões irão para contas paralelas.
De números que quase não conseguimos contar rumemos para alguns de uma ou duas casas decimais. A delegação brasileira deu-nos três medalhas de ouro e um total de 17 medalhas. A equipe de futebol masculino, a mais badalada e bem paga que foi a Londres, logrou uma prata mixuruca. Esportes bem menos incentivados tiveram mais sucesso que o futebol.
Já nas paralimpíadas, a história foi bem mais agradável. O Brasil obteve 21 ouros do total de 43 medalhas. Não há o glamour das Olimpíadas: as partidas não são transmitidas em tempo real em qualquer canal aberto e os jornais não comentam muito.
Ainda que esses números, sozinhos, sejam poucos para definir o patamar de investimentos do governo em atletas, fica a dúvida, saltitando atrás da orelha: onde está a lógica em despejar milhões na conta de poucos atletas e deixar à própria sorte todos os demais?
Talvez Machado de Assis possa ajudar. Em Quincas Borba ele elaborou uma teoria com a máxima “ao vencedor, as batatas”. Explicava que havendo dois povos e comida apenas para um deles, seria suicídio coletivo tentar racionar o alimento entre todos. Seria muito mais inteligente que as batatas ficassem com o povo mais forte. Aqui na vida real, o mesmo ocorre.
Compensa muito mais aplicar muito dinheiro no futebol, que rende fortunas em publicidade do que repartir as verbas com muitos atletas e muitas modalidades. Não é por acaso que o Brasil é o país do futebol. Atletismo, judô, boxe não são páreos aos dribles dos cartolas.
Assim como no esporte, em educação, as prioridades estão longe da necessidade. O esporte e a educação andam juntos nesse caminho lamurioso. Há professores sem receber o piso salarial, que por si só já é uma afronta: 1.400 reais. Assim, perdemos um número incomensurável de atletas porque eles não têm um salário digno que lhes tire do trabalho atual para se profissionalizarem. Por má gestão. E isso é intencional.
Perdemos profissionais incríveis no ensino porque dezenas de empregos de nível médio e técnico pagam mais que o salário de professor. Por pura falta de intenção, por falta de querência. Não se quer. Não, mesmo.
Enquanto as batatas continuarem a ser entregues a poucos grupos, pouca coisa melhorará. Quando a fatia do bolo se aproximar um pouco da justa divisão, aí poderemos pensar em igualdade de oportunidades, em melhores resultados no esporte, em melhores índices educacionais.