O SER E O OBJETO
É, digamos assim, incompatibilidade crônica entre o autor que vos escreve e o objeto que propaga a voz de quem fala através dele. O interessante é que, sempre foi o objeto de desejo no percurso de minha vida. A começar pelas vezes que fazia das mãos fechadas, a imitação desse objeto, ou acessórios outros – tipo cabo de vassoura – para poder praticar diante do espelho do banheiro, as falas dos apresentadores, cantores e locutores, como forma de ir aprimorando, para um dia, quem sabe, exercer a profissão.
Bem, já descartei, faz tempo, a profissão de cantor. Apesar de gostar de cantar, o meu tom de voz agrada apenas aos meus ouvidos e, no máximo, ao canário do vizinho, já que, muitas vezes, ao cantarolar uma canção, ele responde com um gorjeio e completa com um breve recital – afinadíssimo – de uma música erudita de passarinhêz. Se bem que, eu estou desconfiado de que ele está querendo me gozar ou até me dar algumas aulas grátis de como, de fato, se canta. Sei lá! Por via das dúvidas, ultimamente estou evitando passar, cantando, ao lado da janela onde ele normalmente fica durante o dia, evitando assim, a aula grátis e/ou a gozação diária.
A de apresentador - telejornal ou auditório – também já está descartado, haja vista, a própria apresentação visual, incompatível com os requisitos ditados pelos veículos de comunicação, no momento.
Bem, só me resta a de locutor de rádio difusão e é aí que mora o problema. Para começar, não escolhi o Radialismo – talvez já estivesse embutida aí, a incompatibilidade entre o ser e o objeto – e, sim, o Jornalismo, apesar de muitos profissionais dessa área, utilizar esse instrumento para a sua profissão. É verdade que já fiz contato algumas vezes com o dito cujo, porém, em todas às vezes, não logrei o sucesso desejado que a carreira cobra.
O insucesso começa bem antes do contato, quando é feito o convite para falar através dele. Por exemplo: quando sou convidado para dar palestra em alguma escola, centro de evangelização ou abertura de algum evento, a primeira coisa que pergunto é se eu preciso utilizar o dito cujo. Em caso afirmativo, começa o processo doloroso de reverter à fobia que, imediatamente, se instala em meu ser. Exercícios de respiração, relaxamento e, até, tentativa de ioga, eu costumo praticar, além de repetir várias vezes – sempre em frente ao espelho do banheiro – o discurso previamente elaborado para a ocasião. Não tem jeito. Na hora “agá”, quando eu visualizo o objeto – frio e metálico -, o controle emocional, devidamente preparado, vai para o brejo ou, na melhor das hipóteses, desce as correntezas da insegurança.
Porém, não sou de fugir de uma luta e o encaro. Ele, o objeto, no seu lugar, impassível, me olha sempre da mesma forma, irônico, rindo do meu nervosismo, como a dizer: vem!
Eu, o ser, dono do som que o faz brilhar, retribuo o desafio e vou ao seu encontro, mirando-o, sem desviar o olhar, não deixando transparecer o nervosismo que se apossa do meu corpo.
Seguro-o com firmeza, na esperança de poder, através do aperto, dizer quem realmente manda no recinto; quem será a estrela daquela noite; quem é o convidado de honra e que ele – o objeto – deve se recolher a sua insignificância de mero coadjuvante.
Tudo em vão.
O primeiro round sempre é dele. As considerações iniciais saem atropeladamente, tremidas, quase que inaudíveis, só não desastrosas, em sua totalidade, devido ao término do assalto, ou seja, uma parada estratégica para ajustar o som e com isso respirar fundo, como também, estabilizar as mandíbulas que teimam em tocar bateria com os dentes superiores e os inferiores. Isso quando não ocorre de querer melhorar o tom de voz, que soa como se fosse uma gralha gritando ou um bode berrando, toda tremida.
Mas, não me dou por vencido. Insisto. Persisto. E, aos poucos, vou estabilizando os graves e agudos, alternando assim o timbre de voz, para identificar outros sons advindos do ambiente e, finalmente, equilibro a contenda. Não é fácil. Mas, invariavelmente, consigo o empate.
Dou-me por satisfeito e o devolvo ao seu lugar, não sem antes olhá-lo, como a pedir uma revanche, para ver se ganho com larga marcha de pontos, para então assim, perder de vez, essa incompatibilidade e me permitir um relacionamento amigável, estável e duradouro.
É, digamos assim, incompatibilidade crônica entre o autor que vos escreve e o objeto que propaga a voz de quem fala através dele. O interessante é que, sempre foi o objeto de desejo no percurso de minha vida. A começar pelas vezes que fazia das mãos fechadas, a imitação desse objeto, ou acessórios outros – tipo cabo de vassoura – para poder praticar diante do espelho do banheiro, as falas dos apresentadores, cantores e locutores, como forma de ir aprimorando, para um dia, quem sabe, exercer a profissão.
Bem, já descartei, faz tempo, a profissão de cantor. Apesar de gostar de cantar, o meu tom de voz agrada apenas aos meus ouvidos e, no máximo, ao canário do vizinho, já que, muitas vezes, ao cantarolar uma canção, ele responde com um gorjeio e completa com um breve recital – afinadíssimo – de uma música erudita de passarinhêz. Se bem que, eu estou desconfiado de que ele está querendo me gozar ou até me dar algumas aulas grátis de como, de fato, se canta. Sei lá! Por via das dúvidas, ultimamente estou evitando passar, cantando, ao lado da janela onde ele normalmente fica durante o dia, evitando assim, a aula grátis e/ou a gozação diária.
A de apresentador - telejornal ou auditório – também já está descartado, haja vista, a própria apresentação visual, incompatível com os requisitos ditados pelos veículos de comunicação, no momento.
Bem, só me resta a de locutor de rádio difusão e é aí que mora o problema. Para começar, não escolhi o Radialismo – talvez já estivesse embutida aí, a incompatibilidade entre o ser e o objeto – e, sim, o Jornalismo, apesar de muitos profissionais dessa área, utilizar esse instrumento para a sua profissão. É verdade que já fiz contato algumas vezes com o dito cujo, porém, em todas às vezes, não logrei o sucesso desejado que a carreira cobra.
O insucesso começa bem antes do contato, quando é feito o convite para falar através dele. Por exemplo: quando sou convidado para dar palestra em alguma escola, centro de evangelização ou abertura de algum evento, a primeira coisa que pergunto é se eu preciso utilizar o dito cujo. Em caso afirmativo, começa o processo doloroso de reverter à fobia que, imediatamente, se instala em meu ser. Exercícios de respiração, relaxamento e, até, tentativa de ioga, eu costumo praticar, além de repetir várias vezes – sempre em frente ao espelho do banheiro – o discurso previamente elaborado para a ocasião. Não tem jeito. Na hora “agá”, quando eu visualizo o objeto – frio e metálico -, o controle emocional, devidamente preparado, vai para o brejo ou, na melhor das hipóteses, desce as correntezas da insegurança.
Porém, não sou de fugir de uma luta e o encaro. Ele, o objeto, no seu lugar, impassível, me olha sempre da mesma forma, irônico, rindo do meu nervosismo, como a dizer: vem!
Eu, o ser, dono do som que o faz brilhar, retribuo o desafio e vou ao seu encontro, mirando-o, sem desviar o olhar, não deixando transparecer o nervosismo que se apossa do meu corpo.
Seguro-o com firmeza, na esperança de poder, através do aperto, dizer quem realmente manda no recinto; quem será a estrela daquela noite; quem é o convidado de honra e que ele – o objeto – deve se recolher a sua insignificância de mero coadjuvante.
Tudo em vão.
O primeiro round sempre é dele. As considerações iniciais saem atropeladamente, tremidas, quase que inaudíveis, só não desastrosas, em sua totalidade, devido ao término do assalto, ou seja, uma parada estratégica para ajustar o som e com isso respirar fundo, como também, estabilizar as mandíbulas que teimam em tocar bateria com os dentes superiores e os inferiores. Isso quando não ocorre de querer melhorar o tom de voz, que soa como se fosse uma gralha gritando ou um bode berrando, toda tremida.
Mas, não me dou por vencido. Insisto. Persisto. E, aos poucos, vou estabilizando os graves e agudos, alternando assim o timbre de voz, para identificar outros sons advindos do ambiente e, finalmente, equilibro a contenda. Não é fácil. Mas, invariavelmente, consigo o empate.
Dou-me por satisfeito e o devolvo ao seu lugar, não sem antes olhá-lo, como a pedir uma revanche, para ver se ganho com larga marcha de pontos, para então assim, perder de vez, essa incompatibilidade e me permitir um relacionamento amigável, estável e duradouro.
Obs. Imagem da internet