Gaiolas de Ouro

Gaiolas de Ouro

Jorge Linhaça

Existem pessoas que se encantam tanto como canto dos pássaros ou com sua rica plumagem, que , por tal encantamento e, temerosas de , por qualquer motivo, tal pássaro deixe de visitar a sua janela ( talvez não por má fé, porém por insegurança ) acabam por criar armadilhas para mantê-los em viveiros ou gaiolas.

Por mais que a gaiola seja espaçosa e forjada com ouro, ela sempre será uma gaiola.

É lindo podermos ver os pássaros cantarem na natureza, seu canto, ainda que por poucos instantes, reflete a liberdade de suas almas e ele é livre para cantar onde e quando quiser.

Já o pássaro engaiolado é apenas um refém dos caprichos de seu captor.

Por mais que a gaiola possa ser encarada como uma proteção contra os predadores, contra as intempéries e não lhe falte alimento e água, uma alma cativa não canta senão a melancolia de sua prisão, por mais belo que nos possa parecer seu canto.

Com o ser humano não é diferente, quanto mais restrito se torna o seu mundo, o seu campo de ação, tão mais anseia por respirar livre e poder voar.

É verdade que pássaros nascidos em cativeiro, sem nunca conhecer a liberdade, sofrem menos das agruras do confinamento, parecendo-lhes que a gaiola de ouro seja um cantinho do paraíso na terra. Afinal não conhecem outra realidade.

Mesmo pessoas que são submetidas ao cativeiro por longos períodos, passam a acreditar que aquilo é algo natural e acomodam-se, adaptando-se a tais situações e procuram tirar o melhor proveito de seu estado.

Porém, há espíritos por demais livres, incapazes de se submeterem à submissão das rotinas que pouco a pouco acabam por tolher-lhes todos os movimentos. O brilho em seus olhos torna-se opaco e a beleza de seu canto definha dia a dia. A alma do artista sucumbe ao discurso interior do critico da arte, a beleza já não o encanta e sue olhos se fixam naquilo que deseja ver mudado para evitar, até mesmo, que outros acabem em destinos semelhantes ao seu.

Há pessoas que se deixam aprisionar alegremente, até buscam por isso, enquanto outras se iludem acreditando que podem ser capazes de modificar a vida ou o pensamento de seus captores, de modo tal que a liberdade atinja a ambos e a relação se torne uma parceria proveitosa para ambos.

Porém, quando o cativeiro se torna um aviário e o pássaro é obrigado a cantar apenas quando é do interesse do seu captor, quando sua plumagem já não parece tão bela e seu canto já não é tão agradável aos ouvidos, o destino do pássaro é permanecer engaiolado, esquecido e alimentado em um canto qualquer dentro de sua outrora mais bela gaiola do aviário, hoje já degradada, corroída pelo tempo, e ansiando a cada dia mais pela sua liberdade, ainda que esta seja sua derradeira aventura ou ventura.