60 anos de pecado.
Naquele Natal ele veio em minha casa, e, depois de tomar umas e outras começou a falar...falar...e falar...
Contou-me seus "causos", sua vida, sua historia.Contou-me que assim que fez 70 anos foi a uma igreja.Se ajoelhou no confessionário, fez o sinal da cruz e o padre pediu que contasse seus pecados.Ele disse que falou para o padre:
-Padre, o que e pecado?O que o Senhor quer que eu conte?Olha, sei que tem gente que vem aqui só para contar que traiu a mulher, que ofendeu o vizinho, que jogou praga no chefe...Sabe padre?Eu tenho muito mais para contar...eu joguei pedra em meus amigos, eu vi gente morrendo sem ninguém para socorrer, eu espiei minha mãe tomar banho pelo buraco da fechadura.Sabe padre?Que eu era menino eu “comi” cabra.Eu sai de casa ainda menino por esse mundão de Deus e fui fazer meu caminho, minha vida.Morei em lugares que só mesmo Deus para me guardar eu deixar eu vivo para contar isso aqui hoje.Em minhas caminhadas pelo mundo nesse nosso mundão de Deus, eu conheci um padre que andava tão bêbado em seu jipe velho que as vezes ate caia na estrada, mas ele era um homem bom, onde tinha gente precisando dele ele ia, não media esforços, ele sempre fazia o bem.Ele era enfermeiro, era medico, era pai, era amigo, era companheiro.E daí que ele bebia?Ele era um homem santo e só mesmo bebendo para agüentar ver tanta miséria.
Olha:Hoje eu vim aqui para confessar 60 anos de pecado!Sabe por quê?Porque quando eu era menino eu tinha medo de padre, e só depois que conheci esse padre e que deixei o medo de lado e vi bondade.Mas olhe: se para ser perdoado eu tiver que me arrepender, não vou ser perdoado não, pois eu não me arrependo de nada que fiz.Eu vivi e vivo padre.Só quem não vive não peca.
(Depois de esvaziar quase uma garrafa de cachaça ele me desejou feliz Natal mais uma vez e foi embora).