QUESTÃO DE GOSTO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
A questão do gosto vai do popular ao erudito. Aliás, gosto não se discute. Tampouco se discutem cores. A ponto de se dizer isso em latim, desde antigamente, numa dessas frases lapidares e de domínio público: “De gustibus et coloribus non est disputandum”. Com efeito, para muitos, futebol é uma paixão, paixão popular, paixão brasileira. Para outros, uns poucos, uma chatice: marmanjos desocupados correndo atrás de uma bola, algumas vezes num estádio monumental, padrão FIFA, diante de uma plateia aloprada. Dizem também que existe gosto para tudo.
Mas, em geral, há uns gostos prevalentes, de acordo com a época. E isso não é de hoje. Criticando a intemperança e o luxo e aconselhando a simplicidade e a frugalidade, Horácio, numa de suas sátiras, afirma que se alguém proclamar que os mergulhões assados são gostosos, a mocidade romana, dócil a tudo quanto é extravagante, irá na onda. Daí conclui Horácio que a qualidade das iguarias passa a ser determinada pela opinião pública. São como as tendências da moda nos dias de hoje.
Dizer que o belo é aquilo que agrada à vista é subjetivo. Tudo depende do olhar de cada pessoa. Quem ama o feio bonito lhe parece. Além disso, há os narcisistas, em maior ou menor escala que, autocontemplativos, nutrem excessivo amor à própria imagem: – Espelho! Espelho meu! Hoje seria considerado politicamente incorreto dizer às muito feias que beleza é fundamental.
Do gosto inconsequente a extravagâncias, de pequenas concessões à cultura do jeitinho, de pichações e atos de vandalismo ao gosto pela gentileza urbana, do culto religioso discreto ao som alto e incomodativo, do achar que os outros não podem achar... Atualmente, em qualquer recepção, mesmo em alto estilo, o som é quase sempre ensurdecedor. Conversar, nem pensar... E, curioso: ninguém usa som alto para ouvir Tom Jobim, Chico Buarque, Noel, Mozart, Beethoven, Bach.
Em suma, questão de gosto, para uns; e de desgosto, para outros.