Consulta ao Pediatra

 
— Fica queta, Ana Júlia!
— Ah, mãe, deixa eu brincar com esse boneco!
— Não é boneco, é estátua.
Estauta?
— Es-tá-tua!
— Pra que serve estauta, mãe?
— Pra enfeitar. Essa aí tá enfeitando a mesinha do médico. Não mexe!
— E essa porta? Quê que tem nela, mãe? Quem sechô ela?
— Fechou!
— É... Quem sei-chô ela?
— O médico. Ele tá lá dentro da sala.
— Pra quê ele sei-chô a porta, mãe?
— Psiu! Olha aquela moça ali no quadro da parede. Ela tá  pedindo silêncio.
— Por  quê?
— Porque o doutor tá sarando a menininha que tá lá dentro.
— Quê que aconteceu com ela?
— Tá dodói, agora fica caladinha, tá?
— Tá bom...
— Ana Júlia! Larga essa revista!
— Vou olhar os desenhos, mãe...
— Vai, não! Cê rasga tudo que pega. Larga isso...
— Deixa, mãe...
— Não! Para, Ana Júlia! Eu vou chamar a moça de roupa branca pra te dar injeção!
— Nãããããão!
— Então fica queta! Ô menina mexedeira, credo!
—Tá bom...
—Ana Júlia! O Lego, não!
— Só vou montar um casinha...
— Cê vai sumir as peças. Para com isso! Vou contar tudo pro seu pai, cê vai ver!
— Não conta, tá?
— Conto! Pra ele te consertar!
— Ah, o meu pai me dá castigo!
— Por isso mesmo! Um castigão! É o que cê tá merecendo, menina custosa!
— Ahhhhhhhhhh...
— E não chora!  Se chorar chamo aquele velho feio deitado perto do lixo, que a gente viu pra te pegar, tá?
— Cadê ele, mãe?
— Tá lá! Eu vou ligar pra ele!
— Ele tem celular?
— Tem! Pra gente chamar quando tem filha teimosa!
— Mãe, não liga pra ele, viu?
— Então sossega!
— Mãe... Que hora que a gente vai embora?
— Quando o médico olhar seu narizinho.
— Eu quero ira agora...
— Não pode!
— Eu quero!
— Não dá!
— Eu quero minha vó...
— Já falei que não!
— Eu tô com medo...
— Cala a boca, Ana Júlia! Cala agora, senão eu chamo o soldado pra te prender!