Televisão e Burrice

Muitos pensam que alguns programas da televisão tornam as pessoas idiotas. Nada mais errado. A TV jamais conseguiu transformar um cão, uma pulga, uma pedra ou até mesmo um cavalo num burro. Também não imbecilizou quem não a vê. Para que um evento como esse aconteça, é necessário que certos comportamentos existam nos dois lados. Sempre há necessidade de um certo compromisso entre as duas partes envolvidas, para que a consequência ocorra. Em outras palavras, para que haja o emburrecimento do telespectador, é necessário que haja também uma prontidão, talvez um desejo do telespectador para facilitar a tarefa da TV. Não é possível o poder ser exercido através apenas de um lado, isto é, da TV.

Por outro lado, também sempre se acreditou que os meios de comunicação, principalmente a TV, têm servido de instrumento de domínio político. Antigamente acusaram certos livros como perigosos. A idéia do efeito negativo da TV sobre a mente pressupõe a existência de um telespec¬tador de mente vazia, um folha de papel em branco, à mercê do poder da TV. Esta ideia é falsa. A “página” que assiste TV já foi marcada ou rascunhada muito antes.

Alguns falam que a TV difunde opiniões e anúncios enganadores e, por isso mesmo, gera uma consciência falsa.

Os defensores da mente dos telespectadores acre¬ditam que a TV, ao criar um deslumbramento na pessoa, penetra sutilmente na mente do distraído telespectador e aí coloca o que quiser. Ora, não é bem assim.

Como é sabido, durante a história do homem, os pais, a igreja, os professores, os companheiros e outros educa¬dores difundiram condutas, ideias e princípios na mente dos educandos, desde o nascimento. Muitos desses fundamentos, que são falsos, apesar disso continuam a ser ensinados como certos. São estes princípios que formam a base da mente que permitem a entrada, a aceitação e a assimilação das informações vindas de fora, da TV, supostamente novas. Sem esta base adquirida geralmente no meio familiar e dos companheiros, a informação “nociva” fatalmente seria rejeitada. Não é fácil para ninguém se livrar de ideias errôneas postas cedo na vida, mesmo quando elas trazem sofrimento para seu possuidor.

A ideia do poder da TV sobre as pessoas utiliza um fundamento equivocado. Acreditou-se que o ser humano é passivo, e não ativo, diante dos estímulos do meio, e que esses atingem uma mente sem nada. Na verdade, nossa mente filtra e seleciona nossas percepções. Todos telespectadores, sem exceção, têm uma participação ativa na escolha e na interpretação do que é transmitido. Em outras palavras, a “vítima”, o telespectador, antes de ligar o aparelho de TV, já tem sua mente pronta para receber as informações carregadas de mitos, crendices, desejos e sonhos. Qualquer pessoa tem ideias e especulações mais ou menos adequadas acerca do início do mundo, do que as pessoas estão fazendo aqui, do amor, da justiça, das relações entre as pessoas, da honestidade, etc.

Junto a estas diversas suposições, ajuntam-se outras crenças: dos poderes mágicos dos cristais, duendes, gnomos, santos, espíritos, almas de outro mundo e outros habitantes fantasmagóricos que estão inculcados nas mentes confusas.

Numa cabeça assim, previamente bem preparada pela educação, fundamentada numa visão de um mundo mágico, não fica difícil, para os embusteiros e charlatães, introduzir novelas e programas de mau gosto, discursos políticos idiotas, conselhos enganadores, condutas e tratamentos estranhos ou qualquer outro programa absurdamente estranho e grosseiro.

As televisões que mostram essas programações trabalham de mãos dadas com essas cabeças modeladas pelos pais ou outros educadores. Só assim elas são capazes de assimilar e apreciar as bobagens ali mostradas. A TV, portanto, nada mais faz do que manter o que foi plantado antes. Ela nada acrescenta ou modifica à mente da maioria dos seus usuários. Seus programas são preparados, para manter como estão, as ideias e ilusões existentes na men¬te do pobre telespectador.

Esses encantamentos são oferecidos não só pelas TVs, mas também por outros usuários da ingenuidade humana, dos atraídos pelo mágico. Livros, geralmente os mais vendidos, relatam métodos fáceis de viver melhor, horóscopos nos mostram o futuro, talismãs nos protegem, fórmulas fáceis são oferecidas para tornarem bonitos os feios, tera¬pias espetaculares são oferecidas para esses consumidores de sonhos. Ora, no meio de tanta fantasia (burrice), fica fácil a TV introduzir seus produtos: “o sabor que refresca”, “torne sua pele natural” e muito mais...

Galeno Alvarenga
Enviado por Antonio Garcia Neto em 07/01/2014
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