Viagem pra dentro de mim
Estava pensando no silêncio enquanto o barulho abafado das ondas eu ouvia, assim todas as vozes não mais existiam; todo e qualquer som indesejado havia simplesmente desaparecido. Era apenas eu e o mar, eu e eu mesma, eu e mais ninguém. Estava com medo. Medo da imensidão, do desconhecido, do futuro; medo da vida e de perdê-la. Estar ali, submersa, nadando nos meus pensamentos e no mar, fez com que eu me sentisse viva, que eu me sentisse livre e nada mais.
A merce eu estava. Podia deixar-me ir, ser engolida, arrastada, mas não. Escolhi apenas abrir os olhos e deixá-los provar o ardor da vida. Pouco se importaram para aquela água salobra, diante daquela imensidão cristalina e de certo modo turva, tudo o que os meus olhos sentiram foi uma genuína felicidade. Ali embaixo, o que eu via não era de fato o que estava ali; lembro-me de ter confundido uma sombra com um tubarão, com o pavor engoli um pouco de água, mas cheguei em terra firme - o medo é um fator terrível que nos leva à ilusão, vemos o que não queremos, ou versa vice. Os olhos nos enganam, assim como os enganamos.
Aquela imensidão azul me renovava, renovava os meus pensamentos, renovava a mim... Era simplesmente uma outra visão; e, naquele silêncio peculiar, eu pude pensar de forma tão rápida porém tão intensa, sobre os meus desejos, os meus sonhos, até mesmo em coisas que não gostaria de pensar, porém pensei e foi bom. O que é bom, genuíno, eu deixei ficar; o que não é verdadeiro, nem mesmo bom só pela capa, eu deixei ir com as ondas, eu deixei partir juntamente com aquela imensidão. O que não me acrescenta, agora está muito, bem longe.
Meus olhos subiram à superfície e ao longe eu avistei o paraíso em que estava imersa, parecia olhar como uma terceira pessoa, mas era meu, era eu. Olhei com calma e atenção. Senti-me bem. O silêncio ainda perdurava, senão o barulho das ondas. O mundo estava em silêncio, somente a minha mente falava... Aquele era meu momento. Submergi-me mais uma vez, sendo desta de olhos fechados. Tendo eles já experimentado o salgor que a vida proporciona, deixei-os na escuridão, enquanto meu corpo e eu nos banhávamos em pensamento e mar, enquanto meus pés sentiam a areia e a areia os meus pés, enquanto eu sentia a pureza do mundo e ele a pureza vinda de mim. Esqueci e lembrei de muitos momentos e pessoas, voltei no tempo e fui a um tempo em que não vivi, naquele mar vi e senti coisas puras e simples... Naquele momento eu era tudo e ao mesmo tempo nada; eu era o mundo e estava nele. Sorri para mim e por mim. Plenicidade foi tudo o que senti.