Meu encontro com Salvador Dalí

Meu encontro com Salvador Dalí

Jorge Linhaça

Encontrei-me com Salvador Dalí na Caixa Cultural, em Salvador.

Seus bigodes ainda eram os mesmos... Enormes, estranhos.

Mas de resto estava quase irreconhecível.

Suas obras ali expostas eram-me estranhas, suas pinceladas, apesar de geniais pareciam velhos exercícios sobre outras técnicas.

Das cem gravuras, apenas umas cinco tinham a sua cara, algumas outras pareciam “Picassos” menos coloridos.

Mas apesar disso, Dalí continuava enigmático, cada tela um mistério.

Impressionismo, classicismo, surrealismo e barroco, tudo misturado num amálgama delirante.

Suas ilustrações da Divina Comédia de Dante inquietam, instigam e surpreendem.

Cem gravuras para cem Cantos “entre o inferno e o paraíso”.

Dante também se fez presente, declamando pequenos trechos de sua obra para reforçar as gravuras de Salvador Dalí, evocando crimes e castigos e umas poucas alegrias.

Interessante esse encontro de Dante com Salvador... Em Salvador... Falando de seu encontro com o Salvador de todos nós.

Um Canto XIV ao cubo.

O Cristo de Dalí flutua no espaço, crucificado em uma cruz diáfana, quase imperceptível, embora seu corpo permaneça crispado pela dor.

Esse encontro da poesia com a pintura rende grandes emoções ao visitante,

E quanto mais se saiba da obra de Dante, maior o impacto causado pelas telas de Dalí.

Talvez a cultura em Salvador ainda tenha salvação.

Salvador, 6 de janeiro de 2014.