CRÔNICA AO TEMPO QUE PASSA...
 
O tempo parece que corre mais e mais acelerado...
Ainda lembro-me de um tempo, que guardo em mim, qual jóia rara, a sete chaves, e que de tão recluso em mim, não consigo por á mostra para que outros possam ver... E que quando visto é matéria quase impossível de se crer!
E de sonhos... Planos para um porvir que não veio por completo, e se vieram, foram aos pedaços, e eu quase não vi!
Tive sonhos de um amor que fosse puro, que fosse pleno, sem fim... –Malditos poemas que li...  Decerto foram eles que incutiram em mim a sensação de amor imaculável! Como se não fosse uma criação humana para se viver!
Embora tenha lutado diariamente norteando meus atos pelos meus sonhos, noto que serviram apenas para mim... Assim, talvez certos sonhos só tenham serventia para quem os sonha! Pois só quem os sonha neles pode crer!
E o tempo vai passando...
E me desespero em não fazer-me entender, pois quem me ouve parece querer apenas ouvir o que lhe convém...
E vou ouvindo, vou vendo, notando nos recortes de vida que vou colhendo, que pouco importa os nossos atos, se não forem  sementes caídas em bom terreno! - Em corações duros, seja por ignorância, inveja ou má vontade, não germinam, nem nascem... Mas, não podemos deixar de arar terras novas, nem de espargir nossas sementes, com grande fé em nosso trabalho, de que haverá outros frutos, que trarão novas sementes, das sementes espargidas pela gente, em nosso tempo de semear jardins... - De viver...
No mais, por mais difícil que seja entender, que na casa de ferreiro o espeto é de pau, a vida se faz como bem entende, ou como deve ser e se as sementes que não eclodem em vida aqui, talvez nem estejam mortas... Apenas estão adormecidas!
E dentre tantas sementes, existem aquelas que pássaros possam carregar para longe, ou o vento as levem consigo, e assim, o ciclo de vida venha a se refazer... Noutro lugar!
O fim do ano se aproxima novamente! E eu aqui com meus botões... Todo sentimentos! Imerso em pensamentos... Meus olhos insistindo em represar lágrimas, vindas é certo de meu coração... E da minha sensação de que o tempo se esvai entre os dedos de nossas mãos...
Talvez, o problema que afete os meus olhos, que culpe os poemas anteriormente lidos, que faz que os planos tenham sido percebidos aos pedaços, por mim, seja o problema da vontade... Do meu intuito de que as coisas fossem como eu quis e como sonhei...
Talvez o problema tenha sido o tal do meu eu!
Mas, seja como for, certo ou errado, sou o que quis ser, ou o que pude ser, ou o que consegui ser, dentro das possibilidades que se me foram apresentadas...
E se meus sonhos eram mais etéreos que reais, se meus planos deram n’água, ainda assim, sonhei, planejei... Vivi!
Sim, o fim do ano se aproxima uma vez mais, e meus olhos que lagrimejam e meu coração contrito, e minha alma que convulsa, sabem bem disso...
E eu continuo amando, bem querendo, a quem pouco me nota ou me escuta, aqueles a quem minha palavra nem tem sentido...
E temo pelo desdobramento dos eventos de agora, aos quais faço tantas ressalvas...
Tenho aberto a minha boca, nos momentos em que por direito devem estar abertas, tenho aberto meu coração também em momentos em que deveria agir com reservas... – Se não chego a estar certo na maioria das vezes, nem errado, ao menos não sou omisso...
Assim, tenho falado o que tenho dito...
Tenho escrito, e até poemas de amor, como aqueles ditos malditos em um dos parágrafos lá atrás...
O caso é que a areia em minha ampulheta escoa muito depressa... Quem sabe se já não escasseia?
- É que eu, não tenho outra de reserva! Se alguém tiver me empresta? 
Se ao chegarmos ao fim do ano sentimos alguma tristeza, também sentimos esperanças... E se me preocupam quantos grãos de areia ainda existem na minha ampulheta, é que viver é bom demais!
 
Edvaldo Rosa
Poeta e Escritor