Aproveitando o outono
Estou aproveitando o agradável outono baiano para reler dois dos meus autores prediletos. A aposentadoria me dá este direito. Ora releio Machado de Assis, ora Humberto de Campos. Quando posso, releio os dois ao mesmo tempo.
De Machado, dou preferência às suas crônicas.
Percorro, sem atropelos, degustando até, as páginas maravilhosas de Balas de Estalo, de Bons dias! e de A semana, onde o Bruxo se esconde sob o pseudônimo de Dr. Semana.
Não deixo, entretanto, de invadir alguns dos seus romances; entre eles, Helena, Memorial de Aires, e, claro, Memórias póstumas de Brás Cuba, o mais badalado.
De Humberto, tenho suas crônicas e contos - uma edição da Jackson, de belíssima encadernação - que adquiri há muitos anos. Embora tentado a fazê-lo, não vendo um só desses livros. E olhe que já recebi propostas consideradas irrecusáveis por gente de reconhecido gabarito no comércio de livros raros.
Também não gosto de emprestá-los. Dia destes, um dileto amigo levou Sombras que sofrem e Os Párias. No prazo acordado, não fez a devolução. Enviei-lhe um bilhete atrevido. Em menos de vinte e quatro horas, os dois livros estavam de volta à minha estante.
Da série Conselheiro XX, consegui comprar quase todos os exemplares, num Sebo de Salvador.
Esses livros - A Bacia de Pilatos, Ganços do Capitólio, A Serpente de Bronze, Tonel de Diógenes, etc., etc. - custaram-me um dinheirão.
Sucedeu que, na hora de adquiri-los, o dono do Sebo descobriu, no meu ingênuo blábláblá, minha paixão por Humberto de Campos. Aproveitou-se da minha inexperiência, e me impôs o preço que bem quis.
Aos freqüentadores de Sebos, um conselho: nunca declarem ao vendedor sua preferência pelo autor que procura. Façam de conta que mal o conhecem... Ainda que, em assim agindo, ponham o dono do Sebo a perguntar o porquê de tão obstinada e fervorosa busca.
Venho repetindo, que Humberto de Campos continua sendo um escritor esquecido. Isso é lamentável. Dou um doce a quem encontrar, em qualquer grande livraria, um só dos seus livros. Uma injustiça perpetrada contra o autor de Um Sonho de Pobre e À Sombra das Tamarineiras.
A obra de Humberto é leve, agradável e escorreita. Pouco se precisa ir aos dicionários para descobrir o significado das palavras que ele usa nos seus textos. Alguém afirmou, que seus livros "têm a claridade da luz e a simplicidade das almas sãs."
Mas, como disse, também estou relendo Machado. Nesta madrugada, passei os olhos em Dom Casmurro. Troquei a velha edição, que, há décadas possuo, por outra moderna. De repente descobri que a leitura tornou-se mais atraente e o romance mais empolgante.
Diferente da edição anterior, a que acabo de comprar tem uma feição gráfica agradabilíssima. A começar pela sua capa, que traz um lindo rosto de mulher. O rosto de Capitu? E o mais importante: o livro preserva o texto integral do romance; tal como, em 1899, saiu da pena do Mestre Machado.
O certo é que tenho me divertido à beça neste reencontro com a menina Capitu e com o mancebo Bentinho. O que aconteceu entre Bento e Capitolina, muita gente já leu ou ouviu dizer. Capitu traiu Bentinho? Para uns, sim; para outros, não. O assunto continua merecendo cauteloso exame...
Entre outras coisas, impressiona-me a vidinha tranqüila do Rio de Janeiro retratada por Machado em sua obra. Me dá saudade da "cidade maravilhosa" que não conheci. Oh! A imagem que as TVs mostram, agora, é de um Rio sitiado, assustado, refém, aflito, sangrando.
Me diga, ó Morengueira, de onde você estiver, o que foi feito dos bons malandros cariocas?
Está na hora de se voltar a dizer do Rio de Janeiro o que, na canção, disse o compositor Billy Blanco: "Foi aqui que descobri que a vida É."
Hoje, Machado não se arriscaria a gandaiar pelas vielas do Morro do Livramento, onde passou parte de sua infância. Uma bala perdida podia surpreendê-lo numa esquina qualquer.
E nem disporia de suficiente tranqüilidade para escrever seus romances, contos e crônicas, tendo o seu Rio de Janeiro como cenário de suas arrebatadoras histórias...
Estou aproveitando o agradável outono baiano para reler dois dos meus autores prediletos. A aposentadoria me dá este direito. Ora releio Machado de Assis, ora Humberto de Campos. Quando posso, releio os dois ao mesmo tempo.
De Machado, dou preferência às suas crônicas.
Percorro, sem atropelos, degustando até, as páginas maravilhosas de Balas de Estalo, de Bons dias! e de A semana, onde o Bruxo se esconde sob o pseudônimo de Dr. Semana.
Não deixo, entretanto, de invadir alguns dos seus romances; entre eles, Helena, Memorial de Aires, e, claro, Memórias póstumas de Brás Cuba, o mais badalado.
De Humberto, tenho suas crônicas e contos - uma edição da Jackson, de belíssima encadernação - que adquiri há muitos anos. Embora tentado a fazê-lo, não vendo um só desses livros. E olhe que já recebi propostas consideradas irrecusáveis por gente de reconhecido gabarito no comércio de livros raros.
Também não gosto de emprestá-los. Dia destes, um dileto amigo levou Sombras que sofrem e Os Párias. No prazo acordado, não fez a devolução. Enviei-lhe um bilhete atrevido. Em menos de vinte e quatro horas, os dois livros estavam de volta à minha estante.
Da série Conselheiro XX, consegui comprar quase todos os exemplares, num Sebo de Salvador.
Esses livros - A Bacia de Pilatos, Ganços do Capitólio, A Serpente de Bronze, Tonel de Diógenes, etc., etc. - custaram-me um dinheirão.
Sucedeu que, na hora de adquiri-los, o dono do Sebo descobriu, no meu ingênuo blábláblá, minha paixão por Humberto de Campos. Aproveitou-se da minha inexperiência, e me impôs o preço que bem quis.
Aos freqüentadores de Sebos, um conselho: nunca declarem ao vendedor sua preferência pelo autor que procura. Façam de conta que mal o conhecem... Ainda que, em assim agindo, ponham o dono do Sebo a perguntar o porquê de tão obstinada e fervorosa busca.
Venho repetindo, que Humberto de Campos continua sendo um escritor esquecido. Isso é lamentável. Dou um doce a quem encontrar, em qualquer grande livraria, um só dos seus livros. Uma injustiça perpetrada contra o autor de Um Sonho de Pobre e À Sombra das Tamarineiras.
A obra de Humberto é leve, agradável e escorreita. Pouco se precisa ir aos dicionários para descobrir o significado das palavras que ele usa nos seus textos. Alguém afirmou, que seus livros "têm a claridade da luz e a simplicidade das almas sãs."
Mas, como disse, também estou relendo Machado. Nesta madrugada, passei os olhos em Dom Casmurro. Troquei a velha edição, que, há décadas possuo, por outra moderna. De repente descobri que a leitura tornou-se mais atraente e o romance mais empolgante.
Diferente da edição anterior, a que acabo de comprar tem uma feição gráfica agradabilíssima. A começar pela sua capa, que traz um lindo rosto de mulher. O rosto de Capitu? E o mais importante: o livro preserva o texto integral do romance; tal como, em 1899, saiu da pena do Mestre Machado.
O certo é que tenho me divertido à beça neste reencontro com a menina Capitu e com o mancebo Bentinho. O que aconteceu entre Bento e Capitolina, muita gente já leu ou ouviu dizer. Capitu traiu Bentinho? Para uns, sim; para outros, não. O assunto continua merecendo cauteloso exame...
Entre outras coisas, impressiona-me a vidinha tranqüila do Rio de Janeiro retratada por Machado em sua obra. Me dá saudade da "cidade maravilhosa" que não conheci. Oh! A imagem que as TVs mostram, agora, é de um Rio sitiado, assustado, refém, aflito, sangrando.
Me diga, ó Morengueira, de onde você estiver, o que foi feito dos bons malandros cariocas?
Está na hora de se voltar a dizer do Rio de Janeiro o que, na canção, disse o compositor Billy Blanco: "Foi aqui que descobri que a vida É."
Hoje, Machado não se arriscaria a gandaiar pelas vielas do Morro do Livramento, onde passou parte de sua infância. Uma bala perdida podia surpreendê-lo numa esquina qualquer.
E nem disporia de suficiente tranqüilidade para escrever seus romances, contos e crônicas, tendo o seu Rio de Janeiro como cenário de suas arrebatadoras histórias...