MOEDAS DE TROCA
Zona conflagrada, zona de meretrício, zona disto, zona daquilo, zona de silêncio comuns ao radio patrulhamento, esta última significava estar no lado desconhecido da Lua. Havia muitas zonas de silêncio em Porto Alegre, algumas em Ipanema, tinham as que acumulavam duas zonas, a de silêncio e a de meretrício, mesmo disfarçada "as Taquareiras" em Ipanema, não deixavam de ser as duas coisas simultaneamente.
Passando da uma hora da manhã, provavelmente de uma quarta ou quinta-feira, os oficiais cumpriam uma regalia aos soldados que haviam trabalhado no policiamento de uma partida de futebol, dai a probabilidade da aposta no dia da semana, pois nos finais de semana jogos somente ao dia. A regalia era retornarem para suas casas de caminhão choque ao invés de pernoitarem amontoados no quartel. Lá permaneciam somente os que entrariam de serviço as 6:30 horas.
Pela Coronel Marcos, já entrando na Zona de Silêncio vem o despacho, homem armado dizendo-se policial civil ameaçando o proprietário de um bar próximo ao Clube do Professor Gaúcho. Dali para frente o que acontecia só por telefone.
Nas camionetas veraneios os oficiais avistam o burburinho, então decidem deixá-las junto com carro choque estacionadas um pouco antes do Clube. Caminhando continuam se assenhoreando da situação. Sentado em frente de uma mesa, repleta de garras vazias de cerveja, um revólver e um copo já sem colarinho está um homem de pouco mais que 50 anos, trajando um conjunto tipo safári bege, parecendo falar sozinho. De longe procurando abrigo nas árvores está o proprietário alguns fregueses solidários e o garçom. O relato curto dá conta que o infrator ao ser convidado para encerrar a conta, pois supostamente o bar iria fechar, inconformado disse que era policial, que não pagaria a conta e se o bar fechasse, pronto estabeleceu-se o impasse, então ele sacou da arma e colocou-a sobre a mesa.
Os oficiais resolveram negociar e meia distância começando um diálogo, lá de longe inquietas cabeças espiavam de dentro do carro choque. Conversa vai conversa vem e surge a solução mágica, um dos oficiais grita: - vamos fazer um duelo, se venceres poderás ir sem precisar pagar a conta. Todos se entreolham, e vem o remendo, um duelo simulado, sem armas de verdade, o primeiro que apontar os dedos e disser "pá" será o vencedor, se perderes pagarás a conta e irás à Área Judiciária. Feito, todos concordaram com o duelo, mas faltava afastar o beligerante da arma, então os duelantes, mais o juiz da peleja se afastariam de suas armas. A arma continuou sobre a mesa o cinturões escorreram até o chão e lá se foram os três até a calçada postando-se de costas andando até a contagem de dez passos, quando o homem se vira o dualante em nome da lei estava caminhando como se uma sombra fosse, frente a frente um golpe nas têmporas o coloca no chão instantaneamente, então o esperto defensor da lei apavorado começa a gritar o homem morreu tragam um balde de água, que não custa a chegar, enfim o relutante consumidor abre os olhos e é desmascarado, não era policial, a arma era clandestina e não tinha uma moeda sequer, todos embrulhados foram encaminhados à Área Judiciária.
Com mais de uma hora de atraso o comboio seguiu viagem pela Restinga, Lami, Lomba do Pinheiro até retornar ao batalhão.
O retorno para casa em carro choque era a moeda de troca, pela regalia todos a qualquer momento podiam ser chamados como voluntários.