Da natureza dos gatos
O que mais parece um gato é a leveza de sua consciência, felina e breve. Abominar a mão que afaga e partir célere, sem adeus. Porque adeus talvez seja demais. Olhar determinado, sobre muros e parques. Vivendo a natureza, andarilha e selvagem. Apenas vai, sobre telhados e interrogações.
Disfarçado em criatura doméstica e domada, sem domus, sem dono. Igual a si mesmo, no passo cauteloso. Contorna o desconhecido, em zombaria mansa do incontornável. Pleno por natureza, em linha reta ou sinuosa.
Mão materna, paterna ou apenas amiga, pouco importa. Um carinho é apenas um carinho e nada mais.
O mundo é muito grande ou nós outros, muito pequenos. Monocórdios em nossa afeição humana. Desnaturados do que não é gato, contemplamos vidraças embaçadas, na nostalgia de nós mesmos. Na solidão dos porquês, a criatura negra e volátil, passa em frente á minha porta. E só me resta sorrir e buscar um pires de leite.