E A VIDA CONTINUA

Neste último mês do ano, a morte tem-me deixado um tanto perturbado. Três pessoas bem chegadas, só em dezembro. Duas no mesmo dia. Duas foram cremadas. Um certo alívio por ver pessoas melhores esclarecidas optarem por esse meio de deixar este mundo. Vieste do pó e ao pó retornará, não é um preceito bíblico? Mas para mim, a época foi inoportuna: veio estragar o meu Natal e o Ano Novo. Por mais que a Pastora Rita Andrade afirme que a vida continua, é difícil se conformar.

Deveria haver lei do universo determinando que seja proibido morrer em algumas datas ou próximas a elas: como no Natal, no Ano Novo e no Carnaval.

Todas as mortes deixam sinais indeléveis em nossa vida. Mas uma que nunca esqueço, foi de um colega de trabalho. Sentávamos em mesas contíguas. Trocávamos confidências. E assim, soube que era separado da mulher, tinha dois filhos pequenos no interior. E vivia sozinho na capital. Certo dia, faltou ao serviço e à tarde soubemos que ele sofrera morte súbita. A chefia pediu-me que passasse em vigília no velório. Era na Beneficência Portuguesa. Jantei, troquei de roupa e fui de metrô até S. Joaquim.

No início da noite havia diversas pessoas. Muitos colegas de trabalho: a ex nem os filhos compareceram. Mas, lá pelas dez da noite, foram-se indo. A certa altura, constatei com certo pavor, que estava só com o defunto. Outras salas para o mesmo fim, estavam vazias. Não aparecia ninguém. Nunca tinha sentido, e ainda sinto aquele vazio tão grande e absurdo. Depois daquele dia, nunca mais topei velar por alguém durante a noite.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 03/01/2014
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