Há algo estranho no ar, e não é a poluição. Segundo vários institutos, foi o pior Natal dos últimos 11 anos para o comércio brazuca, mas a ponte aérea São Paulo-Miami bateu todos os recordes. Não só foi muito mais barato, como ainda deu para faturar uns trocados com encomendas de última hora,  de amigos que não conseguiram comprar passagem para os EUA. O tal do PS4, que tanto se comentou antes das festas, foi só um exemplo dos mais simples: nos EUA custa US$ 399,99, aqui no Brasil R$ 4.000,00. Isso acontece com qualquer produto se comparado com os vendidos no hemisfério norte.



     Se fizerem uma rodovia que ligue São Paulo a Miami, TODOS os shoppings centers paulistanos fecham. O que mata é a fila na volta, aquela de 120 minutos, com o sovaco mais azedo que suco de limão sem açucar, segurando as bolsas, o passaporte, a mãe que liga prá saber se você já chegou, a filha que manda torpedos perguntando se voce comprou o batom da MAC e não tem um puto de um banheiro disponível  entre você e a Policia Federal. Não pára aí não, o segundo tempo começa com a reza para a Santa das Malas, implorando e fazendo promessas para que as suas tenham sido embarcadas em Miami e desembarcadas em Cumbica. Vinte minutos e nada. Um monte de gente do seu voo com o mesmo pensamento: "ainda tem muita mala para desembarcar", portanto não se perde a esperança tão facimente. As tuas chegam e você dá aquele sorriso sarcástico pro vizinho desesperado: "não se preocupe não, que uma vez as minhas vieram em outro voo, mas chegaram duas horas depois". O problema é que o teu vizinho tem um voo em  uma hora para Manaus!!!.



     Agora tem a parte mais estressante, delicada, vil e que mexe com os intestinos: passar batido na alfandega, com 4 malas, duas bolsas a tira-colo e uma fralda para adultos, porque se o fiscal da receita pedir para abrir as malas, reze para a tua proteção com abas duplas e gel extra não vazar na frente dele.
       A última etapa (para alguns) é pagar o taxi que vai custar mais que a passagem para Miami. R$ 170,00 para ir de Cumbica a São Caetano do Sul é um estupro consentido. Pagamos o que for para tomar um banho e sentar no trono do rei, como um rei.



          Aí você pergunta: porque o título Compras X Pólvora, se ninguém (de bem, pois bandido e politico consegue) compra armas em Miami e carrega na mala? Simples. Na virada do ano, eu e todos que estavam comigo fizeram a mesma constatação: as pessoas gastaram menos com presentes e mais com pólvora (fogos de artífício). Nunca na história deste país se gastou tanto com explosivos coloridos e tão pouco com bonecas. Será um sinal, algo que está no íntimo da classe média e que em Junho de 2013 apareceu rapidamente, como um cometa? Quem sabe gastar mais com pólvora em 2014 seja mais eficiente que tentar mostrar no horário eleitoral  gratuíto o mal que estamos sendo governados. A Copa vai garantir uma quantidade razoável do pó explosivo, quem sabe se a gente guarda um pouco dela para implodir nas eleições com todos os políticos que aí estão. As Forças Armandas talvez precisem limpar seus bacamartes e afiar suas baionetas, pois do jeito que estão maltratando nosso país, a pólvora seria só um dos dispositivos necessários para colocar o pais de novo no rumo da Ordem e do Progresso, palavras bonitas numa bandeira, mas insignificantes na nossa alma.