Se meu fusca ressuscitasse!
Primeiro foi um susto, depois veio à emoção e a saudade na hora que abro o site “Plantão da Cidade” e vejo estampada uma foto de um “fusca” ano 1974, igual até na cor ao que tive até dois anos passados. O da foto certamente terá um final feliz na mão de algum torcedor do Operário Ferroviário Futebol Clube, que após o sorteio de domingo próximo, depois de uma circulada em comemoração ao prêmio certamente o colocará em uma moldura e colocará exposto na garagem apenas como peça de museu.
De foram nenhuma eu tomei birra de “fuscas”, embora tenha sido um drama o tal que refiro acima. Eu não tinha raiva dele, mas ele acho que tinha raiva de mim, e nem pena do meu dinheiro tinha, posto que hoje os modernos carros populares vão até quinze quilômetros com um litro de gasolina, enquanto o sonho do passado hoje é pesadelo. Oito por quilometro, no máximo!
Diziam no passado que peça de fusca se comprava até na quitanda, não vá nessa onda que são poucas as casas de peças onde se encontra um eixo ou uma biela, quanto mais tudo que ele necessita. Não sei o estado de conservação do “fusca” de Ponta Grossa, só sei que ele pelo menos por fora é igualzinho o tal que, por uma loucura qualquer, achei bonito e o comprei em São Paulo e o vim dirigindo há oitenta por hora até chegar na Bahia. Quando? Em 2003.
Depois de testado e “aprovado” nas ruas de Higienópolis, com direito a uma esticada até o Largo do Arouche, paguei dois milhões e meio pelo dito cujo. Falo nesta cifra para não ficar humilhado ao dizer que paguei R$ 2.500,00. O comprei porque cismei que iria colecionar carros antigos. Isso é coisa para aposentado com muita grana, não para um jornalista interiorano. Paguei, sentei a direção, joguei a bagagem no banco de trás e a minha amada esposa no banco lateral. Ela eu não joguei, e para que na viagem nada me reclamasse cheguei abri a porta e dar-lhe uma rosa que Marissol vendia com aquele olha de pobre menina rica!
Os primeiros quinhentos quilômetros foi uma maravilha. Mas já em Contagem, Minas Gerais, alguém que queria chegar mais rápido me deu uma “arrebanhada” com um jipe e lá foi um dos pára-lama para o espaço. Desamassei como pude e continuei a viagem que passou para a fase da turbulência. A meia-noite eu na estrada quebrou a correia da ventoinha, que também gira o dínamo. O bicho não tem alternador, ainda é dínamo! Depois em um buraco caiu um dos faróis, e lá fui eu caolho. Parei em um motel, pelo menos isto, a minha amada, acho eu, desde que éramos noivo não via um espelho no teto!
Pela manhã retomo a viagem até Montes Claros, agora sem buzina e um pára-choque ameaçando cair na estrada. Mas que bom faltavam apenas quatro centos quilômetros para chegar em casa, e uns quinze para sair da rodovia federal. Mas, ali estava me esperando uma blitz da Polícia Rodoviária Federal, parei sem ter alternativa. Apresentei minha habilitação, documentação do “fusca” que estava em dia. O guarda passou a vista em todos os defeitos e me alertou que poderia apreender o veículo. Pediu para acionar o limpador de pára-brisa, ocasião em que uma das palhetas voou para o lado oposto, por sorte não ferindo a autoridade.
Já preparava para retirar a bagagem e tentar uma carona quando o representante da lei, comovido com meu olhar de arrependimento, disse que poderia continuar a viagem na condição que eu saísse da estrada que ele patrulhava. Segui o destino, mas não sem antes solicitar que os dois patrulheiros que ali estavam dessem uma empurrada. O motor de arranco já era! Cheguei ao destino, no Sertão da Bahia depois de uma centena pai nosso e duas trocas de pneus, troca de óleo e outros cuidados. Só não completei água no radiador. Agradeci a Deus e ao “fusca” também, porque o motor só fundiu na esquina da minha casa!
Foi para o desmanche. E se ele ressuscitasse? Faria com ele uma viagem até as margens de Rio São Francisco e afogava o danado!
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(*) seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, que comprou uma bicicleta com o dinheiro que apurou no ferro velho!