Descoberta Nova Terra


“Descoberta Nova Terra!” Esta foi a notícia estampada em dezenas de veículos de comunicação nesta exuberante quarta-feira, 25 de abril. Com variações pertinentes, desdenhei da minha esposa, que foi a primeira a me comunicar:

- Descobriram um planeta em que pode haver vida?
- Aposto que é uma piada do Casseta & Planeta - tão cético estou com o que anda se passando pelo mundo afora.

À medida que o dia corria, fui confirmando a notícia. Logo pensei em fazer as malas: um mundo novo para ser descoberto e desvendado! Que maravilha! Pude então, em um piscar de olhos, compreender todo o fascínio que os europeus tiveram ao dar-se conta da descoberta do nosso continente. A esperança saltou-me aos olhos.

Infelizmente a distância é um obstáculo: o novo planeta situa-se a 20 anos-luz de distância. Se viajássemos à velocidade da luz, em 20 anos eu chegaria ao planeta, um bom-velhinho de 61 anos pronto a fincar minha bandeira nas margens de fulgurante cachoeira. Lembrei-me então que o meu corpo poderia ser congelado e depois reanimado. Um frio percorreu-me a espinha: dormir por séculos e séculos feito tumba em sarcófago? Creio que não estou psicologicamente preparado para o desafio.

No entanto, meu entusiasmo inicial fez-me refletir a respeito de um outro sentimento: do que estaria eu fugindo? Seria da violência urbana que a todos nos incomoda, mas que com ela vamos convivendo como quem convive com um tumor? Seria da corrupção que assola o meu país? Notei que eu não queria fugir, mas dedicar-me a construir algo novo, uma nova sociedade, livre de nossos vícios e mazelas.

Vai ser difícil conseguir um lugar na primeira espaçonave a buscar o planeta paraíso. Creio que os milionários e os últimos “xeiques” árabes comprarão as melhores poltronas. O povo vai ficar aqui, olhando para as estrelas à espera de um mundo melhor. Mesmo que façam um concurso para levar um cronista, sei que serei derrotado. Não ganhei nenhum até agora, mesmo disputando apenas com os irmãos lusófonos, quem diria com a humanidade inteira?

Talvez eu não suportasse a longa viagem. E mesmo que congelassem meu corpo, para fazer a travessia interestelar, eu estaria privado da companhia dos meus amigos e familiares, a quem tanto amo e estimo. Entre ser um dos primeiros a desembarcar na Nova Terra, ou ficar e amar aos meus, fico com a segunda alternativa. Vou lutar bravamente para construir aqui uma nova humanidade, livre de nossos conceitos e pré-conceitos. Minha arma será a literatura, através de pequenas e tímidas crônicas, que anseiam por ser lidas.

Só espero que o primeiro estabelecimento no novo globo não seja uma loja do Mac´Donalds e que as praias logo sejam loteadas. Acho que o turismo entre a Velha e Nova Terra será intenso. Acredito que em mil anos, após chegarmos àquele Eldorado teremos em duplicata os problemas que aqui pipocam, a não ser que o homem, em um rasgo de evolução, decida alterar o que tem pesado na balança: a nossa própria natureza!