Tudo de lindo pra você

Não sabiam muito bem onde passar o Réveillon. Chegaram a cogitar a Paulista. Por fim, já em cima da hora, decidiram passar com os parentes dela. Era a maneira tradicional de se comemorar o ano novo, mas para ele seria a primeira vez, já que aquele amor não tinha mais do que algumas semanas. E, verdade seja dita, os dois já começavam a achar que aquilo que sentiam não era exatamente amor. Mas aquela era uma noite de festa e não poderia haver ocasião pior para discutir a relação. O essencial era arrumar um lugar bacana para esperar a virada do ano e o resto se arranjaria depois. Foram, pois, para a casa dos parentes dela.

Ele se viu então em meio a uma multidão de gente que não conhecia – e suspeitava que isso incluía a sua namorada. Mas isso não impediu que todos se abraçassem efusivamente e dissessem coisas muitos gentis uns aos outros assim que o relógio chegou à meia-noite. Quando os dois deram o seu abraço de ano novo, ela disse: “Tudo de lindo pra você”. Ele respondeu alguma coisa parecida, mas àquela altura ambos já tinham se dado conta que haviam se precipitado e que não fazia sentido ele estar comemorando com a família dela, como não fazia sentido o próprio namoro.

Aproveitando que o barulho dos foguetes impedia qualquer conversa mais importante, eles se limitaram a olhar para o céu colorido de fogos de artifício. Tinham certeza que aquele ano anunciava uma separação. Ainda assim, se esforçaram para tornar a noite do outro mais agradável, e quem os visse conversando nem imaginaria que tudo estava prestes a terminar. Houve música, houve cachos de uva, houve inclusive um amigo secreto que precisou ser modificado para incluir o novo namorado. Também houve fotografias que jamais revelariam toda a verdade. Perto do fim da festa, ele começou a brincar com as mãos dela, balançando para lá e para cá. A tudo ela deixou, como se ainda houvesse esperança. Como se realmente estivessem incluídos nas coisas boas que o outro espera deste ano.