Feliz ano... Novo?
Mais um ano que chega ao fim. Com ele muitas promessas que ficaram em segundo plano e suas muitas vicissitudes. Não há nenhuma novidade nesta questão pela simples ambiguidade da coisa. Tudo que vai, volta; todo começo tem um fim. O grande mote fundamental é: onde começa? Aonde vai terminar? A partir desse pressuposto o incomensurável se torna ardil e maravilhoso.
Falemos do ano que se passou num presente contínuo, no futuro do pretérito, num passado tão recente que ainda podemos tocá-lo antes que se despeça. É o que a vida faz de melhor. Ela nos dá experiência, amigos, amores, filhos e – claro! – cabelos brancos. Neste último ano tínhamos cabelos menos grisalhos, preocupações mais ponderadas, percalços diminutos pela força dentro e fora de nosso espírito. Engraçado que nesses últimos dias quisemos terminar com grande afã o que não tivemos nenhuma pressa nos outros onze meses. Foi mais uma ocasião de se despedir de entes que fizeram sua última viagem, de dar boas vindas a quem chegou repentinamente sem avisar, de olhar nos olhos de quem amamos há muito tempo e não proferirmos uma única palavra, apenas gestos silenciosos de carinho. Sem falar na perspectiva platônica do desejo frustrado, no corre-corre cotidiano, na beleza da chuva e na tormenta das tempestades que nos deixaram inertes.
A noite anterior despencou em uma catarata de emoções nostálgicas. Contamos os últimos segundos rememorando o que vimos na televisão, as noites curtas do amor carnal, o tabagismo ocasionalmente oportuno, a promiscuidade, a insensatez, a infertilidade do egoísmo. Deixamos escoar pelos dedos os minutos finais dos dias dionisíacos de liberdade, das discussões calorosas e desnecessárias, dos beijos inesperados, da embriaguez imoderada e (sobretudo) das intensas tragédias episódicas que vivemos. Ninguém saiu incólume. Contudo, fomos além – muito além – e, ao deixamos partir as lembranças, contemplamos com afinco a virada da maré.
Esse ano que se despediu pode ter sido muito promissor ao passo que demasiado derrotista. Não é fácil calcular quantos maços de cigarro nós compramos, quantos cafés, quantas cervejas tomamos, quanto gastamos com bobagens e quanto guardamos em espécie para não sermos abocanhados pelo consumismo desenfreado. Mas não é preciso ser economista pra enxergar o quanto gargalhamos e o quanto fomos felizes. Pior ainda se imaginarmos quantas lágrimas caíram e pra quanta gente demos uma “forcinha” nas adversidades.
Entoamos uma canção todos os anos sobre o “capitalismo selvagem”. Mas essa condição humana e essa barbárie que nos egressa para um estado hobbesiano total de natureza não é – nem de longe – culpa direta do capitalismo, mas das nossas ações, do que aceitamos docilmente, do que resolvemos deixar pra lá porque a peleja era muito exaustiva.
O ano de 2013 não foi o leito de um rio menos violento, nem a água límpida e branda de uma praia paradisíaca. Ele foi sem dúvida o que não seria de outra forma: um pouco mais de vida no tempo sombrio dos Homens. E o próximo ano já está aí novinho em folha, nele depositado a esperança como a única coisa que restou na caixa de pandora. Até poderíamos arriscar em dizer que ele é um livro com páginas em branco esperando para ser cunhado a ferro e fogo. O que remanesce na gente é se iremos gravar no decurso do novo ano os nossos heroísmos ou a nossa inglória. Enfim... Meu desejo para esta nossa nova etapa é simples, mas exageradamente laborioso: humanidade, uní-vos!
A todos um feliz e próspero 2014!