Neste final de ano

Quem fala que Curitiba está vazia neste final de ano certamente não precisou pegar um Santa Cândida/Capão Raso por volta das cinco horas da tarde. As estações tubo continuam tão lotadas como sempre estiveram e em muitas sequer é possível entrar. Quando enfim isso acontece, mal conseguimos nos mexer e apenas os mais fortes resistem à tentação de desmaiar diante de tanto calor humano. Normalmente o primeiro ônibus que chega não é o nosso, o que nos obriga a sair da frente nem que seja preciso descumprir leis da física. Na nossa vez, somos delicadamente empurrados ônibus adentro e sem dúvida morreríamos pisoteados se não fosse assim. Não há, pois, absolutamente nada em um biarticulado que faça crer ser esta uma época de férias.

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Um dia eu irei escrever um roteiro de pautas jornalísticas para o mês de dezembro. Não é muito difícil: antes do Natal, a imprensa deve atuar em parceria com o comércio, fazendo matérias sobre a movimentação nos shopping centers. Recomenda-se ouvir as pessoas que deixaram para fazer as compras na última hora. É preciso dar dicas sobre a ceia e no dia 25 explicar o que fazer caso se tenha comido demais. No dia 26 é hora de falar sobre a troca dos presentes. Daí em diante deve-se deixar claro que o único jeito de passar o fim de ano de forma aceitável é na praia. Os telejornais devem ser usados especialmente para falar sobre o trânsito até lá. Mais algumas matérias sobre a ceia e outras sobre as simpatias para receber bem o ano novo e está feito o mês de dezembro.

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Também merece um espaço considerável a Mega Sena da Virada. É necessário converter o valor do prêmio em número de casas ou carros populares para que todos se convençam de que é mesmo uma bolada e assim façam as suas apostas. Deve-se perguntar o que as pessoas farão com tanto dinheiro. É fundamental que o repórter diga que até ele irá fazer uma fezinha. Sobretudo, deve-se deixar claro que ninguém quer voltar a andar de biarticulado em um final de ano.