Matemática da vida
Queria que a vida fosse definida, realmente, por números para, na contagem do tempo matemático, poder resolvê-la descobrindo os “X” de todas as questões.
Fazê-la seguir pelos quilômetros que marcam o percurso das minhas expectativas e estacioná-la na garagem do meu endereço sempre que quisesse descansar.
Marcá-la no calendário do meu próprio tempo e poder pulá-la sempre que não quisesse estar presente. Ter feriado de viver.
Torná-la mais exata, sem tantas variações de resultado, nem sobras e restos que tomam espaço e tempo, sem nada a acrescentar.
Saber gastá-la de forma inteligente para que, no fim de todas as contas, ainda sobrasse o suficiente para ser feliz.
Contá-la com ponteiros para saber quando é cedo ou tarde, nunca perder a hora e todo dia despertar.
Projetá-la nos padrões dos meus anseios e necessidades e, salvo alguns desgastes e fissuras, morar nela até morrer.
Uma vida com escritura, CPF, RG e impressão digital, assinatura. Que houvesse punição para os que a tentassem roubar.
Que a cada trocar de dígito o ano fosse efetivamente elevado e que, proporcionalmente, o anterior fosse rebaixado. Cada acréscimo de tempo resultasse em menos tristeza, menos desengano, menos conflito, menos injustiça.
Queria que, realmente, a cada trezentos e sessenta e cinco dias a vida fosse elevada a infinita potência de ser melhor.