SÃO PEDRO ZANGOU-SE
Faz algum tempo que procuro sarna para me coçar. Eles nos telhados e eu as vezes daqui de cima outras lá de baixo, bem pertinho, ofereço agrados, alguns pegam outros desdenham, até que ontem ouvi um gritinho que parecia uma alma de gato, pássaro tido como de mal agouro, mas para mim não, gosto de vê-los, principalmente em bandos. Não era alma de gato, procurei e encontrei, bem junto ao muro, ao lado da roseira, que quase não dá rosas, mas espinhos em abundância, cinco sarninhas, três já de olhos abertos, outra duas não, uma preta e outras quatro similares ao Mau Egípcio. Estavam mãe e filhotes acantonados, para quem é do ramo a palavra acantonados serve bem. De cara levei uma unhada da tão zelosa mãe e ao esquivar-me levei uma espetada da roseira, pronto, primeiro round sai lesionado.
O céu cinza escuro, rajadas de vento, trovoadas, certamente iria desabar um temporal e tão indefesas criaturas precisavam de ajuda, afinal eu distribuía oferendas nas beiradas dos telhados, quem mandou provocá-los. Apossei-me da casa abandonada pelo Costelo, um cãozinho mimado, dono de dois iglus, em pouco mais de 90 minutos fiz alguns remendos rebitando placas de plástico, se fizesse os tais remendos de fibra e resina não receberia habite-se em menos de três dias, além da possibilidade de puxarem as minhas orelhas, por estar me expondo a riscos desnecessários. Pouco depois das 20:15 horas estava pronto o conserto, retornei ao lado do acantonamento e ajeitei a casa, que inclusive recebera assoalho de compensado. Armado de luvas de couro, óculos de proteção, comecei a luta desproporcional com a gatinha mãe e consegui transferir quatro filhotes para a nova morada, um deles escondeu-se numa touceira de espadas de São Jorge.
Voltei para o meu território e aguardei meia hora, de lanterna em punho, iluminei o interior do iglu de 80 centímetros de diâmetro, e lá estava a mãe e dois deles visíveis, certamente os outros estavam atrás dela. Vasculhei junto as plantas e parece que não havia nenhum desgarrado, então olhei para o céu e disse ao São Pedro, que podia mandar a chuva, pois eu havia pedido alguns minutos ao santo homem até que pudesse colocar a salvo tão indefesas criaturas. Acho que ele ficou zangado e não mandou a chuva, tenho que durante a noite ele compreenda o meu pedido e mande a tão esperada chuva.