No manicômio

Televisão é máquina de fazer doidos. Pelo menos depois da novela das oito, já que até então todos podem se sentar e assistir normalmente. Também não se recomenda ficar diante da televisão durante o horário de almoço, como costumam fazer todos aqueles que se consideram sadios. Mas a verdade é que alguma coisa precisa ser feita para passar o tempo. Não é possível contar com as visitas familiares, que são bastante raras. Segundo dizem, as melhores atividades por lá são as festas de aniversário. É quando todos podem dançar à vontade, sem se preocupar com o que os outros irão pensar. Também existem gincanas e atividades culturais, mas um deles reclama: antigamente elas aconteciam com mais frequência.

Vários deles caminham pelo pátio principal e tentam puxar assunto – logo no início os visitantes são alertados de que eles tentarão nos cumprimentar, o que parece indicar que não estão em seu juízo perfeito. A recomendação para esses casos é não dar atenção, exatamente como as enfermeiras fazem. Os que desobedecem ouvem coisas como um convite para visitar a casa da família deles. Um em especial, com sujeira escorrendo do nariz, anuncia que naquela noite mesmo estará voltando para casa – e só depois ficamos sabendo que aquele é o seu primeiro dia lá.

São maníacos, depressivos, esquizofrênicos, psicóticos, suicidas em potencial e, para nosso espanto, obesos. Em outra ala estão os dependentes químicos. Um homem está amarrado a uma cama e se debate furiosamente, em abstinência. Pela manhã os dependentes fazem a oração da serenidade e cantam o Hino Nacional. Quando tomam banho as suas roupas são revistadas para ver se não há droga escondida, trazida pelas visitas – e às vezes há. Muitos estão ali apenas para fugir dos traficantes. Também há uma área para consumo de tabaco, que por algum motivo é tolerado. Em toda essa ala ninguém vem puxar assunto. Por ali eles se deixam ficar como inconvenientes. Que é, aliás, como a gente deseja que eles fiquem.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 30/12/2013
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