Aquelas crianças
Sentado distraidamente enquanto esperava o momento de embarcar no avião que me levaria ao sul, deixei-me envolver por um grupo de crianças que, acompanhadas dos pais, também estava ali com o mesmo objetivo. Pelo que entendi, eram dois casais de irmãos. Os meninos eram mais velhos e deviam ter uns quatro anos. Assombrou-me, logo de início, a simplicidade com que as crianças travaram contato entre si. Identificando-se imediatamente, um dos meninos simplesmente se postou ao lado das outras crianças e anunciou: “oi”. No que foi imediatamente correspondido pela menina: “oi”. O piá fez então uma indispensável observação, porque era preciso deixar as coisas bem claras desde o início: “Você não é a minha irmã”. De fato, ela não era a sua irmã. Foi quando o outro menino entrou em cena para esclarecer: “Claro que não é sua irmã. Ela é a sua amiga”. Porque, todos sabem, basta cumprimentar alguém para ser amigo.
E em seguida os quatros começaram a brincar e conversar de tal maneira que era de se imaginar que se conheciam desde o berço. Um dos meninos (que afirmou se chamar Lucas Coração de Leão) tinha um brinquedo que era uma mistura de caminhonete com robô. Pois ele garantiu a todos os presentes que era possível armá-lo de tal maneira que ele sairia voando. A menina, muito espertinha, ergueu o brinquedo com a mão e anunciou: “Ele já está voando”. Mas o menino disse que ele voaria sem mão nenhuma, e foi realmente uma pena que não fizesse uma demonstração.
As meninas começaram a fazer desenhos com canetinha em um caderno. E devem ter desenhado uma espécie de Frankenstein, porque dali a pouco estavam todos discutindo de quais partes ele era composto: “Tem a orelha da Isadora. O nariz do Lucas. O cabelo da Larissa. As mãos do Artur”. Larissa ainda arrematou: “E o cabeção do meu pai”. E eles riam e se divertiam enquanto inventavam outra brincadeira.
O avião podia nem ter chegado ainda, mas aquelas crianças já voavam longe. E pior, me arrastavam junto.