Noite feliz

Aos porteiros, trancados em uma guarita a noite inteira, acompanhados apenas de um rádio ou uma televisão, autorizando a entrada de pessoas identificadas e não recebendo mais do que cumprimentos apressados daqueles que saem; aos taxistas, responsáveis por conduzir pessoas até o local que escolheram para se divertir durante a noite; aos frentistas, porque sempre aparece alguém que se esqueceu de abastecer o carro antes, e é indispensável que abasteça agora; aos garçons e garçonetes, que precisam se desdobrar para servir a todos da melhor maneira possível e assim garantir que tenham uma noite agradável; aos auxiliares de cozinha, que preparam os jantares que marcarão essa data, ainda que eles próprios mal possam tocar na comida; aos recepcionistas, às camareiras e a todo o pessoal do serviço de limpeza dos hotéis, cujo trabalho deve garantir uma acomodação de qualidade para aqueles que nos visitam nessa noite; aos motoristas de ônibus que precisam trabalhar até depois da meia-noite; aos garis que precisam esconder a nossa sujeira até o início da madrugada; aos telefonistas, aos agentes de trânsito, aos policiais, aos bombeiros, às equipes de resgate de maneira geral, porque alguém precisa estar atento e a gente sabe que nessa época o número de ocorrências aumenta; aos médicos e aos enfermeiros de plantão, dos quais a gente não pode prescindir, e que até fazem uma comemoração entre si, mas a gente sabe que não é a mesma coisa; aos agentes funerários, porque a morte não escolhe dia e é preciso que alguém esteja a postos caso ela aconteça; aos voluntários do serviço de atendimento aos suicidas, porque nessa época o serviço aumenta; aos jornalistas, porque o tempo inteiro acontecem coisas no mundo e eles precisam estar vigilantes para qualquer eventualidade; a todos que dizem já ter se acostumado com isso, e àqueles que passaram pela experiência pela primeira vez: obrigado pela noite feliz que vocês sacrificaram para que eu pudesse ter a minha.