NOSSOS MÚLTIPLOS “EUs”
 
Você já  pensou como as pessoas lhe veem?Como é a sua imagem pública?
Sei que  contemos muitos “eus” dentro de nós;tantos,que nos surpreendem a cada dia,um deles tendo atitudes que nós mesmos  os outros reprovariam e,a gente se pergunta onde ficam   os outros quando aquele prevalece.
Aqui, na minha terra,nunca leio um livro no banco da praça;mas,já fiz isto em outro lugar ou outro país.Pessoas passam,veem uma senhora de meia – idade, de óculos ,mergulhada num grosso tomo encadernado,esquecida do mundo  - o que será que pensam?
- Que tanto esta mulher lê?Que coisas tão interessantes deve haver num livro?
- Olha só aquela senhora...Bolsa largada sobre o banco,não sabe que pode ser roubada?
- Deve ser uma intelectual,tão entretida com a leitura...
Nada disso; apenas uma pessoa que lê;e,lendo mergulha num mundo mágico onde nada mais interessa.
No shopping olham para mim; bem vestida, não com roupas de grife,mas,porque sei combinar os tons,arranjar os acessórios,criar um estilo,fruto de muito observar e de um profundo gosto pela harmonia e pela beleza.Pode-se escrever um poema,enquanto se troca de roupa.A harmonia,os detalhes,a combinação das cores é quase um poema.A moda, também, é arte.
As pessoas passam e veem aquela mulher bem vestida no meio de tanta gente nonchalant.Gente quase uniformizada,jeans,camisetas,sandálias...
O primeiro pensamento: uma riquinha fazendo compras.Uma aposentada sem o que fazer gastando um dinheiro duramente ganho no seu período ativo.Uma dondoca que vem ao shopping fazer compras e tomar um chocolate na casa de chá ,tão cara...
Enganaram-se todos;compro o que preciso e ando bem vestida porque me agrada.Não sou consumista,mas,gosto do que é bom.
A boa aparência é um dever para com a sociedade. Um sinal de respeito ao semelhante. Uma satisfação social.
Posso ser generosa e  possessiva.Posso ser simpática ou agressiva. Posso estar insegura e ter momentos de extrema coragem.Bem humorada ou triste.
Quem sou eu,realmente?Quantas Miriams habitam essa mulher que hoje sou?Tímida e insegura na adolescência,rebelde  ,  desafiadora e segura de si ,hoje.
Se eu não fosse filha de meus pais ,se me chamasse Eugênia,seria diferente?
Se eu seguisse o caminho que meu pai traçou pra mim –faculdade,doutorado,vida acadêmica,será que eu seria melhor?
Se não tivesse casado e tido filhos será que sairia pelo mundo procurando aventuras?Mudando de pensão, andando a pé pelas calçadas,deixar amantes,namorados e,solitária andar por entre gentes como queria Camões?
Solitária  sempre fui e sou ,mesmo no meio de multidões;”lobo da estepe”,me chamava um amigo alemão, anterior ao Facebook,como eu ,apaixonado por Hesse.
Para meu pai e meus chefes ,uma grande vendedora,capaz de vender geladeira a esquimós;uma leitora compulsiva,para meus professores.
Mas , lá dentro de mim, o que sou e o que quero?Não conviveria bem com a fama, prefiro o anonimato.Não dou muita importância ao dinheiro,talvez por sempre  ter tido o necessário  e colocar a felicidade na porta da minha casa.
Muito franca,quem me conhece sabe que não atiro pelas costas.Tenho um dom muito grande que é só meu,de avaliar seres humanos.Sei o que eles pensam,mesmo que suas bocas pronunciem outras palavras.Para não me decepcionar muito com as pessoas,olho seus lábios,não seus olhos.Eles costumam dizer tudo.
Coragem de romper laços,tomar decisões,cortar nós,isto tenho;começar de novo é uma arte que pratico com prazer e desenvoltura.Tanto estaria bem numa choupana como num palácio;sou camaleônica.Mas,claro,preferiria viver num palácio se lá habitasse ,também,a paz.
Tenho um dom incrível de despertar inveja, não sei bem porque;não sou rica,nem bonita,nem famosa.Apenas,vivo.
Ainda não sei bem o que fazer com meus eus,mas,isto não me importa. Deixo ás pessoas que convivem comigo o prazer da descoberta.