Dona Sinhá

-Morava em um casebre próximo a rodovia:

-Três cômodos 2X3, cobertura de sapé, paredes de pau a pique, chão batido.

- As camas de dormir eram tarimbas de forquilhas, estrados de bambu, forrado com esteiras artesanais, (uma planta com nome de taboa), alguns farrapos de roupas velhas, pra servir de cobertor.

- Quando chovia a doce velhinha não sabia o que fazer, para tapar os buracos, chovia mais dentro, que fora de casa.

Na sala assentavam-se ao chão de terra batida.

-Dormia no único quarto da casa, na companhia de seu filho caçula.

Já então com doze anos de idade com (síndrome de Down).

- Não sendo feito nenhum tipo de tratamento, não conseguiu se desenvolver em atividades ao qual lhe trouxesse algum proveito.

- Dos outros quatro filhos que tinha, um deles portava uma deficiência nos pés,

(tipo curupira) ou seja os pés eram virados para trás.

- Este, ganhou de presente uma botina.

- Tratou logo enfiar os pés dentro dizendo:

Só tiro meus pés daqui quando estiver curado, e andava todo desengonçado com aquela botina comendo os pés. (não tirava nem pra tomar banho).

- Boa pessoa era ele, contador de causos, trabalhador.

Fazia canecas de latas, aproveitava lata de (extrato de tomate), passava recolhendo nas casas ou catava mesmo no lixo, e colocava alça.

- Todos os vizinhos compravam, pra ajudar e até mesmo porque era diferente, ”colorida”

(naquela época nem se ouvia falar em reciclagem).

- Bem voltando em Dona. Sinhá:

Ela não gostava de tomar banho,somente na colheita quando ganhava um vestido novo, retirava aquele velho do corpo.

Este não servindo mais pra uso, era posto ao fogo.

- Isto não quer dizer que ela tomava banho, pra colocar o vestido novo.

- Quase todos os dias!

-Eles apareciam em minha casa, e lá iniciava as histórias, os causos.

Minha mãe já imaginando o final da conversa, tratava logo colocar mais água no feijão.

Por ali ficavam toda a família a espera do jantar.

A noite se estendia, com os causos e minha mãe à beira do fogão a lenha preparava um delicioso pé de moleque pra completar aquele final de tarde.

-A pobreza era tanta naquela família, mas isto não impedia o jeito carinhoso dispensado a nós por aquela doce senhora.

Relembrando o vestido:

- Então!

Este era de chita de preferência azul com flores brancas.

Me lembro que nós meninas(os) ficávamos aguardando o dia do banho da Dona.. Sinhá.

Era uma verdadeira festa, quando a gente via que ela estava de modelito novo.

Nos fundos de sua casa passava um riacho. Pouca água,sobra de pasto de vacas e outros animais.

Sem filtrar, ela enchia os baldes e levava pra casa.

(a água era usada para cozinhar alimentos e fazer sua higiene pessoal)

Dentro da casa, uma bacia de alumínio, me chamava a atenção,ela colocava água, lavava e enxaguava as vasilhas.

Me lembro do barulho de uma aliança, raspando o fundo da bacia e arranhando os pratos esmaltados, já bem gastos pelo tempo.

Dona.Sinhá fazia um feijão temperado com alho que “matava” a gente com o cheiro.

Na hora ninguém lembrava da falta de higiene de Dona. sinhá.

Tinha um filho dela que andava pelas matas a procura de POAIA, uma planta que cura e também usado com vermífugo) segundo ele não havia coisa melhor, o coitado não tinha um só dente que prestasse naquela boca.

-Uma filha que era também nossa vizinha e tinha uma filharada, acho que uns quinze ao todo.

O outro filho andava a procura de trabalho por toda redondeza pra juntar uns trocados, e nos fins de semana sair com a namorada pro arraial mais próximo.

Mas recordo com saudade do( feijão temperado com alho), da aliança, que, provavelmente nem era de ouro, do vestido de chita, de sua trancinha, presa no coque com um grampo já bem gasto.

- E! Principalmente de sua humildade e generosidade, que, com toda sua pobreza, ainda era capaz de nos oferecer do único alimento que cozinhava. (feijão refogado ao alho).

Dona.Sinhá é um nome fictício

Sissapoetisa
Enviado por Sissapoetisa em 26/12/2013
Código do texto: T4626135
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