O verdadeiro Natal
Sou meio avesso ao consumismo. Não propriamente pelo fato de se dar um presente. Isso é bom e às vezes significa uma demonstração de carinho. Isso quando o presente se reflete apenas em um símbolo da relação carinhosa. A situação que não vejo com bons olhos é ânsia e a obrigatoriedade de se comemorar uma data festiva com desobrigação da ternura cujo ato de carinho se satisfaz apenas com a entrega do presente. Quem recebe essa lembrança através de um bem de consumo tem de olhar aquele ato como uma troca de sentimento. Da parte da pessoa que entrega o donativo tem de conseguir expor naquele gesto uma emoção de aconchego e de afinidade cujos sentimentos têm de transcender o valor do bem entregue como presente. Essa é a verdadeira relação de entrega.
Quando vejo aquelas multidões saindo às ruas em vésperas de Natal efetuando compras e tendo o maior trabalho para enfrentar as filas e contando o dinheirinho para poder dar todos os presentes que a ocasião proporciona, fico a me perguntar quantas daquelas pessoas estão fazendo isso com entrega e com o espírito verdadeiro do Natal?
Às vezes a gente se surpreende, porque as pessoas que menos tem possibilidade são às que, por uma razão ou outra, acabam demonstrando que entregam um bem sem muito valor no aspecto de consumo, mas estão entregando também o coração e a alma naquele presente. Assim, de nada adiantaria ao grande empresário entregar nas mãos da esposa um carrão do ano e durante o ano vindouro estivesse envolvido com adultério e outros tipos de hipocrisia. Evidente que o presentinho dado com a alma seria aquele que, perante Jesus significou o verdadeiro espírito do Natal.
Tenho tido notícias de algumas pessoas que procuram determinada crença (no mundo espiritual) para fazerem operações mediúnicas. Algumas delas vão para o local da benção exatamente como são no mundo externo. Ou seja, furando filas, desrespeitando pessoas mais velhas, burlando os direitos dos mais necessitados. Talvez a pressa do mundo moderno tenha feito essas pessoas reféns das coisas externas e muitas vezes se esquecem daquilo que é mais importante no ser humano que é a paz e a consciência interior. Como o próprio espírito natalino exige tais pessoas não irão alcançar aquilo que vem através do merecimento que está intimamente ligado à conduta de cada ser.
O consumismo é o mal do século. Não porque as pessoas não possam buscar o bem-estar. Ao contrário, é salutar e faz parte do contexto existencial o ser humano buscar evoluir e assim gozar de uma vida mais confortável adquirindo bens que possam lhe dar aconchego nos momentos de descanso. Entretanto, junto com essa realidade surgem aspectos que fazem as pessoas ficarem automatizadas ou robotizadas. O mercado exigente e as necessidades básicas impulsionam a dinâmica do dia a dia. Isso, às vezes, confunde. A correria e a necessidade de alcançar sucesso em um negócio tomam o tempo. O ser passa a ser refém dessas exigências. Aí mora o perigo!
Prefiro no Natal receber muitos abraços e um cartãozinho onde a pessoa se lembre de mim. Acho isso menos superficial em termos de entrega. À exceção das pessoas da família é muito difícil que recebamos um presente e nele vislumbramos essa condição de entrega. Já vi gente ler a bíblia, fazer pregações, dar bons presentes e durante o ano que se inicia se envolver com corrupção e dando maus exemplos para os filhos e para a sociedade.
Natal é pureza no coração. Sem isso é uma festa comum como o próprio carnaval. Ou seja, sem substância, sem sentimento, sem entrega, sem amor. Jesus quer é que os homens se sintam irmãos. Que se abracem partilhando fluídos de emoções sinceras. Se os presentes significarem esse tipo de sentimento eles devem ser partilhados e distribuídos com o maior carinho, porque aí sim, as pessoas se sentirão homenageadas conforme os mandamentos Divinos.
Às vezes a gente precisa muito de um presente. Nada a ver com coisas de consumo. Às vezes nossa vida toma rumos diferentes quanto a nossos filhos ou nossa filhas. Nós os (as) educamos se dedicamos e não dá em nada. Seria tão bom receber de um rebento o carinho de uma vida sincera, sem mentiras, sem hipocrisias, sem interesses mesquinhos, através de uma vida digna, sem traumas, sem consequências e sem buscas nas mazelas oferecidas pelas reticências do mundo irreal.