Brilho
BRILHO
A tarde estava mais pra lá do que pra cá, no finzinho mesmo do dia, as luzes da Rua Sebastião de Lacerda ainda estavam apagadas, algumas lojas na ânsia de vender, já haviam acendido suas luzes projetando na calçada, sombras de seus objetos.
Andava lentamente como um vagabundo deliciando-me com o belo cair da tarde de um lindo dia de Abril. Mãos aos bolsos, andar displicente olhando para o horizonte, tendo como fundo o morro do Alto Recanto. As silhuetas das arvores davam-me a impressão que olhava para uma renda negra que tentava encobrir a montanha. O meu dia tinha sido daqueles que não se pode reclamar, tudo havia dado certo.Caminhava como um vencedor, de repente sem mais nem menos lembro que estou esquecendo dela. Não foi heresia, a culpa foi da grandeza da natureza que está a cima das coisas da terra.
Essa lembrança tirou-me do estado de graças, minha alma até então leve como uma pluma fica pesada, e volto a viver como um ser humano qualquer. Não sou mais o ser só que caminha, a angustia, a ânsia passam-me a acompanhar. Então me pergunto: Será que vale a pena?
Com esse pensamento continuo minha caminhada, agora mais lentamente, quase parando a cada passada, o caminhar deixou de ser um prazer. Mas eis que de repente, algo brilha na calçada parecem duas estrelas pregadas no chão. Olho mais atentamente, e vejo que é um reflexo que vem do vidro de uma vitrine. Levanto o olhar, já estou próximo, olho espanto-me, meu coração dispara, e se enche de alegria. Tudo que vinha filosofando perde o sentido.
Lá está ela em frente à vitrine. Dois olhos negros como ônix reflete no cristal e ilumina o granito do passeio. Aquela luz de brilho intenso acorda-me tira-me do mundo dos Elfos, dos Silfos, e coloca-me diante da triste realidade.
Todos somos prisioneiros da paixão, quanto mais se gosta, mais escravo se é. Mas como é bom ser escravo desse algoz que nos oprime. Esse talvez tenha sido o castigo mais bem disfarçado que o criador nos legou por termos pecado. Será que é certo o ditado amar é sofrer?