FUGIR NÃO É O MELHOR ATALHO
Tenho que as noites de outono da primeira metade dos anos sessenta do século passado fossem acariciadas por brisas levemente aquecidas, insetos eram soprados para lá e para cá, tinham o voo sacudido na iluminação das lâmpadas públicas.
Já nos anos setenta numa noite na estação de trem de Rio Pardo, junto aos pés de plátanos, a brisa morna contribuía sobremaneira para um quadro melancólico varrendo as folhas de um lado para outro como se fosse uma daquelas noites dos anos sessenta. No silêncio da madrugada que já avançara certamente vagueavam por ali as assombrações das infinitas viagens de ida e volta dos trens.
Os trens quase sempre atrasavam, principalmente os de passageiros, mesmo dando carteiraços no nos trens de carga, não importava se era de primeira ou segunda classe, ou classe alguma, não importava, todos atrasavam juntos, na socialização do atraso. As horas passavam e nada dele apitar lá na curva, o agente dedilhava o telégrafo, e logo vinha a resposta em forma de pequenos sons agudos, pela fisionomia todos podiam percebem, mais meia hora, ou pouco mais, tudo voltava a rotina da espera, e a noite seguia embalada pela brisa quente.
A espera sentenciava que o trem não era um bom caminho para atalhar, mesmo que as ferrovias parecessem retas intermináveis, nem tão pouco um veículo para se empreender fugas, o fuginte se tornaria preso dos trilhos. Talvez um repente de ciúmes fizesse alguém fugir do amor através do trem, assim seria um bom negócio, logo a espera faria o fugitivo desistir. De avião quem sabe!