NO LIMBO

Depois de diversos anos de estudo e reflexão, os teólogos do Vaticano chegaram à conclusão de que o limbo não existe e que as almas das crianças não batizadas devem ser confiadas à misericórdia divina. Numa primeira leitura não consigo perceber os motivos para tanta inquietação em abrir as portas do paraíso para os inocentes, mas o fato de o limbo estar associado à concepção cristã da salvação e ter sua origem nos teólogos medievais como conseqüência do pecado original torna temerária a sua abolição. E o batismo? O paraíso? O Inferno?

O limbo da Divina Comédia de Dante Alighieri, local de permanência dos pagãos virtuosos e dos grandes filósofos clássicos, deveria ser revisto e redirecionado para um renovado paraíso literário com os tons inconscientes e irracionais da realidade caótica em que vivemos. Uma estilizada construção dos níveis dos subterrâneos culturais e sociais e dos céus cada vez mais utópicos.

Enquanto os meios de comunicação propagam a abolição do limbo e os teólogos se reúnem para encontrar alternativas, como a clemência divina, para as conseqüências do dogma do pecado original, os excluídos continuam purgando os erros alheios e as políticas governamentais nos estamentos indiscutíveis. À margem dos alardeados paraísos e infernos, milhões de seres são obrigados a sobreviver à eternidade dos limbos mundanos e a construir, nas próprias vivências, o significado do olvido e do esquecimento.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/04/2007
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